Existem alimentos que realmente previnem ou evitam o câncer?

Antes de mais nada, vale dizer que é um grande equívoco relacionar os alimentos como ‘preventivos’ ou ‘inibidores’ de câncer. O que eles fazem é fortalecer todo o organismo devido à presença dos nutrientes. Uma vez que ele [o organismo] está funcionando de forma adequada, o nosso corpo será capaz de combater as células tumorais, que muitas vezes nós mesmos produzimos, de forma natural.

 

Nesse sentido, é ideal optar sempre pelos mais naturais, livres de agrotóxicos. Essas substâncias químicas, por sinal, usadas no Brasil em larga escala para manter pragas e insetos longe das lavouras, podem, a longo prazo, alterar a estrutura das células e potencializar os riscos de tumor. O chamado efeito cumulativo dessas microdoses de venenos ao longo da vida é, inclusive, apontado pela Organização Mundial da Saúde, como responsável pelo aparecimento de diversas doenças, sobretudo, o câncer. E as perspectivas tornam-se ainda mais preocupantes pelo fato de que cada brasileiro consome, em média, 7 litros de agrotóxicos por ano, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz.

 

Outros vilões da saúde são os alimentos embutidos, como salsicha, linguiça, mortadela, presunto e salame. Feitos à base de carne, eles foram inventados para facilitar as preparações e aumentar o prazo de validade. O problema é que possuem maior teor de gordura saturada em relação à carne natural e excesso de conservantes e corantes, como o nitrito e o nitrato. O uso frequente e em quantidades maiores que as recomendadas, aumenta as chances de câncer de intestino. Mas que fique bem claro: isso não quer dizer, porém, que todo mundo que comer embutidos terá a doença. É sempre bom relativizar. Aqui estamos tratando de maiores e/ou menores possibilidades.

 

É importante também ficar atento ao consumo em excesso de refrigerantes, biscoitos, doces, salgados, refrescos, salgadinhos, cereais matinais e pratos congelados. Isso porque estes itens fazem parte de um grupo de alimentos ultraprocessados, ou seja, formulações industriais prontas para consumo. Eles são feitos nas fábricas a partir de diversas etapas de processamento e combinam muitos ingredientes que ninguém tem na cozinha de casa, como extrato de carnes, gordura vegetal hidrogenada, xarope de frutose, espessantes, emulsificantes, corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários outros tipos de aditivos, incluindo substâncias sintetizadas em laboratório a partir de carvão e petróleo, por exemplo. Uma alimentação baseada apenas no consumo destes produtos pode, não só, aumentar o risco de câncer como causar obesidade, hipertensão e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

 

Antes de terminar este texto, quero ressaltar que a minha intenção ao escrevê-lo não é demonizar os alimentos industrializados, mesmo porque é impossível conviver sem eles nos dias de hoje. A questão é buscar o equilíbrio. Sempre que possível vale a pena romper com esse círculo de alimentação fast-food que nos rodeia e buscar o pequeno produtor que não usa agrotóxico. Não precisa ser só o orgânico. Comida de verdade causa menos adoecimento.

 

E quando me refiro à ‘comida de verdade’, quero dizer que não existe um único alimento saudável ou milagroso. O ideal é recorrer aos diversos grupos alimentares. Ter um alimentação diversificada, com a inserção de carboidratos, legumes, verduras, frutas, oleaginosas, carnes e ovos é sempre a melhor alternativa. Quem pratica esse hábito tem, ao mesmo tempo, uma refeição colorida e se mune de todos os nutrientes de cada grupo, necessários para o organismo reagir a qualquer infecção.

 

O estilo de vida é outra peça chave para aumentar o campo de prevenção contra câncer e outras doenças. Eu faço questão de perguntar a meus pacientes quais os cuidados que eles têm para além da alimentação, ou seja, se praticam atividades físicas ao ar livre, se dormem, no mínimo, oito horas por noite. Isso porque, com a correria da vida moderna, muitas pessoas abrem mão de terem tempo. Querem ter um, dois, três empregos, fazer duas faculdades simultaneamente. Com isso, negligenciam aspectos básicos da saúde para dar conta de todas essas tarefas: comem muito rápido para chegar ao trabalho, trocam o almoço pelo lanche da rua, fazem longos intervalos entre uma refeição e outra. Um dia, infelizmente, a conta por esse descaso chega e pode ser cara.

 

             Gisele Magalhães - Nutricionista clínica do Cetus Oncologia