2020: um ano que nos fez refletir sobre o real conceito de felicidade?

Final de ano batendo as portas. Se antes da pandemia as pessoas, de modo geral, aproveitavam esta época para refletir se, de fato, estavam sendo felizes em suas escolhas, agora, após um 2020 tão caótico, que parece ter virado o mundo ao avesso, essa reflexão se tornou ainda mais incisiva, diária e constante. Como a fragilidade da vida foi colocada à prova por causa de um vírus desconhecido, valorizar e vivenciar as coisas simples, que realmente fazem sentido, parece ter ganhado contornos mais importantes para se chegar ao real conceito de felicidade.

 

Essa premissa, que parece ter sido retirada de um livro de autoajuda tem, inclusive, validação científica. Segundo um estudo da renomada Universidade de Harvard, nos EUA, que durou nada mais nada menos que 75 anos, e terminou antes mesmo da Covid-19, o segredo da felicidade são as relações pessoais que cultivamos. Quem criou laços fortes com outros seres humanos vive mais e melhor – para além de dinheiro, status ou emprego. Isso significa que o sucesso maior de nossa vida está no afeto trocado, dividido, saboreado e devolvido.

 

A conclusão da pesquisa de Harvard faz sentido e vai de encontro ao que acredito quando questionada sobre o tema. Como diz o filósofo contemporâneo Mário Sergio Cortella, a felicidade é um sentimento de vitalidade exuberante, totalmente episódica e que acontece com uma certa frequência em nossa vida, ou seja, trata-se de um estado de espírito pontual e não algo contínuo. A base da felicidade é estar bem consigo mesmo. Só conseguimos fazer bem ao outro quando estamos bem conosco. E aí entra o compartilhamento, as trocas.

Quero deixar claro, porém, que cada ser humano tem o livre arbítrio para ir em busca daquilo que faz seus olhos brilharem, contudo é interessante não nos prendermos à padrões impostos, como se estes fossem o único caminho possível para ser feliz. É preciso, por exemplo, termos uma atenção muito especial no que se refere a felicidade vendida nas redes sociais. O que te faz feliz não deve ser medido pela tela do celular. Não sou contra o Instagram, o Facebook ou outros mecanismos virtuais de relacionamento do mundo moderno; admiro as vantagens e as facilidades que eles agregaram em nossas vidas. Mas a felicidade é muito maior que um like.

 

Os tempos de pandemia estão, justamente, contribuindo para trazer essas reflexões e permitir que muitas pessoas olhem mais para dentro de si do que para fora, para o externo. Eu mesma estava muito afastada da natureza e o isolamento social me fez perceber pequenos detalhes que antes passavam despercebidos por mim, como a beleza dos ipês amarelos nas ruas. Agora me sinto bem mais feliz com o simples fato de ver minhas plantinhas crescerem, de poder regá-las diariamente ou de ter um animal de estimação. As coisas simples ganharam um valor realmente importante para quem compreende a beleza de todas elas.

 

E é justamente na dor e nos momentos de turbulência que a felicidade parece ficar ainda mais evidenciada. Isso porque é nas perdas que percebemos o quanto éramos felizes com o trivial e não sabíamos. Veja só, por exemplo, como o abraço hoje faz falta? Este é um dos primeiros gestos de carinho que milhares e milhares de pessoas vão querer receber e retribuir quando a pandemia passar.

 

Por isso não espere para amanhã aquela demonstração de afeto que você tanto queria dar hoje. O amanhã é incerto.  Não espere o ano novo chegar para ser feliz, tirar os sonhos da gaveta.

A melhor hora para mudar vai ser sempre o agora. E essa necessidade se acentua ainda mais com os dias de hoje. É preciso entregar agora, fazer agora, se adaptar às novas estratégias e cenários, agora.

 

Ser feliz deve ser a sua pauta principal nos 365 dias do ano.

 

Ana Luíza Andrade Müller Rodrigues, psicóloga e Consultora de Desenvolvimento Humano Organizacional do Cetus Oncologia