Hemograma simples é fundamental para diagnóstico precoce da leucemia

A cada ano no Brasil são diagnosticados quase 11 mil casos de leucemia, segundo dados do Instituto de Nacional de Câncer (Inca).  Para alertar sobre os sintomas e conscientizar a população acerca desse câncer hematológico, foi criada a campanha Fevereiro Laranja.

 

A enfermidade é originada na medula óssea, local em que as células do sangue são formadas, e acomete os leucócitos, também chamados de glóbulos brancos. Eles começam a reproduzir de forma descontrolada, dando início aos primeiros sinais da leucemia. Os sintomas iniciais são um reflexo de acúmulo de células anormais, que prejudicam a produção de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas, responsáveis por funções vitais do corpo, como o transporte de oxigênio e o combate a infecções. Como consequência o paciente pode apresentar anemia, palidez, sonolência, fadiga, palpitação, sangramentos na gengiva e nariz, manchas roxas na pele ou pontos vermelhos e infecções.

 

A literatura tem conhecimento de mais de 12 tipos de leucemia, sendo as quatro principais a mieloide crônica, a linfoide crônica, a mieloide aguda e a linfoide aguda. Nas primeiras as células doentes se multiplicam mais lentamente, porém em um processo constante e contínuo. Já nas leucemias agudas o processo de replicação é mais rápido e a doença se agrava em um curto espaço de tempo. Quando elas crescem mais de 20%, pode-se dizer que o paciente apresenta um quadro de leucemia aguda.

 

Diferentemente de outros tipos de cânceres que acontecem, principalmente, em pessoas de mais idade, as leucemias podem aparecer em qualquer época da vida. Inclusive, dentre os tumores pediátricos, ela está em primeiro lugar nos mais comuns (28%), seguida pelo câncer do sistema nervoso central (26%).

 

Não se sabe exatamente o porquê das leucemias se desenvolverem, entretanto acredita-se que a enfermidade ocorra devido a uma mutação genética não somática, ou seja, uma mutação que não pode ser passada de pai para filho. Ainda não há registros na literatura que associem a leucemia a um fator hereditário.

 

Diagnóstico e tratamento

 

O diagnóstico de leucemia, muitas vezes, se dá por meio de um simples exame de sangue, conhecido como hemograma. Por isso é fundamental fazê-lo com regularidade para identificar alterações sanguíneas ainda em estado inicial. Quando este rastreamento identifica um baixo nível de glóbulos brancos no sangue (leucopenia) ou a condição oposta, leucocitose, em que as células estão num valor acima do normal, [no adulto é de até 11.000 por mm³], todos sem causa aparente, o médico solicita exames especializados para confirmar o quadro, entre eles mielograma e biópsia de medula óssea. Neste último caso um pequeno pedaço do osso da bacia é enviado para análise por um patologista.

 

O tratamento, por sua vez, vai depender de uma série de fatores como a estratificação de risco inicial da doença, características do paciente, entre elas idade e doenças associadas. Nas leucemias agudas, geralmente mais graves, a caminhada em busca da cura envolve quimioterapia, controle das complicações infecciosas e hemorrágicas e prevenção ou combate da doença no Sistema Nervoso Central. Para alguns casos, é indicado o transplante de medula óssea, que também apresenta bons prognósticos se a neoplasia é diagnosticada rapidamente.

 

O grande problema no transplante [de medula óssea], um dos temas abordados na Campanha Fevereiro Laranja, é a compatibilidade. Para que esse procedimento possa ser feito, é preciso que a medula do paciente e do doador sejam compatíveis, assim como acontece no transplante de órgãos. Procura-se essa compatibilidade primeiro entre os parentes mais próximos. Caso não seja encontrado ninguém, é necessário recorrer aos bancos de medula, como o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).

 

Apesar de ser mais difícil achar um doador não-aparentado compatível (um a cada 100 mil), essa busca não é impossível. Daí vem a importância da doação de medula óssea. Quanto mais voluntários doarem, maior a chance de o paciente poder realizar o transplante.

 

Como ser um doador de medula óssea

        

Os interessados em doar medula óssea devem procurar os hemocentros de seus estados para se cadastrarem – no caso de Minas Gerais, o Hemominas. Além disso, será necessária a coleta de uma amostra de sangue (5 ml) para testes de tipificação HLA, fundamental para a compatibilidade do transplante. Estes dados serão incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) e, em caso de identificação de compatibilidade com um paciente, o doador será contatado para realizar outros testes.

 

Outros requisitos necessários são: idade entre 18 e 55 anos, bom estado de saúde, não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue (como HIV, toxoplasmose, anemia congênita ou hepatite), não apresentar história de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide.

 

Durante o transplante, retira-se de 10 a 15% da medula do doador e 15 dias após a doação, a pessoa terá a reposição completa do tecido líquido-gelatinoso. O doador ainda poderá fazer outra doação, caso seja do seu interesse, depois de seis meses da última cirurgia.

 

                                                          Milene Abdo – hematologista