Atividade física para pacientes com câncer é recomendada?

A recomendação da Sociedade Americana de Câncer é de 150 a 300 minutos semanais de atividades físicas moderadas ou de 75 a 150 minutos/semana de atividades intensas. Elas reduzem o risco cardiovascular, o que é importante visto que muitos pacientes oncológicos têm hipertensão ou diabetes, o que pode aumentar esse risco. Com a redução, há menores probabilidades de efeitos negativos das medicações quimioterápicas e consequentemente um melhor desfecho do tratamento.

Outra razão que torna a atividade física aliada importante no combate e sobrevivência a um câncer é que a contração muscular ocasionada pelo esforço físico produz proteínas que têm função anti-inflamatória e atuam em vários órgãos do corpo. Essa ação colabora com a prevenção e o enfrentamento à neoplasia.

Por outro lado, há um gargalo nesse cenário. Poucos profissionais de educação física têm conhecimento específico sobre prescrição de exercícios para pacientes com doenças crônicas e, principalmente, com câncer. Neste caso, há até um agravante. Um treinamento incorreto poderá interferir no tratamento ou mesmo favorecer o tumor. Daí ser crucial que o educador físico tenha domínio em prescrição para cada etapa da terapia. Cada uma possui objetivos distintos e requer sobrecargas diferentes.

No pré-tratamento, que abrange desde a fase de diagnóstico até o começo da terapia, o exercício deve preparar o corpo para estar em um nível superior de condicionamento.

No decorrer do tratamento, fase em que ocorre uma redução na capacidade de transporte de oxigênio, assim como mais fadiga, o que significa menos autonomia funcional e, portanto, mais sedentarismo, perda de massa muscular (sarcopenia) e maior suscetibilidade a outros problemas, o exercício vai reduzir a dor e fortalecer o organismo para responder aos impactos do tumor e aos efeitos colaterais das terapias, além de diminuir sintomas de ansiedade e depressão. Mas atenção: O ideal neste momento é que a carga e a frequência de treino sejam diminuídas, uma vez que os fármacos afetam a capacidade de autorregeneração dos músculos.

Já no pós-tratamento, quando o paciente recebe alta médica e tem pelo menos cinco anos para ser acompanhado até ser declarada a ausência de uma reincidência da doença, o treino será fundamental no processo de recuperação. Nesse percurso, é importante manter o médico informado sobre os exercícios prescritos. Fundamental também será mostrar os exames de sangue (mesmo os de controle) para o profissional de educação física. Se o nível de plaquetas estiver muito baixo, o aluno é suscetível a hemorragia e não pode treinar, por exemplo,

Outro ponto é observar sinais de intolerância ao esforço. Havendo tontura, náusea, dor óssea, fadiga e fraqueza muscular, deve-se parar imediatamente. São indícios de que os exercícios podem estar afetando negativamente o tratamento.

Com esses e outros cuidados, é possível continuar a prática de exercício físico durante todo o tratamento e com significativas chances de vitória contra a doença.

 

                                   Daniella Pimenta – oncologista clínica