Prevenção ao Câncer

Protocolos de screening e medidas de prevenção podem reduzir a mortalidade por câncer. Os protocolos de screening possibilitam a identificação de anormalidades em estágio inicial, diagnóstico precoce e, consequentemente, maior efetividade dos tratamentos instituídos. Estratégias de prevenção, por sua vez, orientam a adaptação de hábitos, comportamentos, costumes e fatores ambientais capazes de aumentar o risco de determinadas doenças, como neoplasias(1).

Apesar de aproximadamente 50% das neoplasias serem consideradas preveníveis e de verificarmos aumento do leque de métodos diagnósticos e estratégias terapêuticas, o câncer permanece como a principal causa de óbitos nos EUA, onde aproximadamente  600.000 pessoas morrem por complicações oncológicas a cada ano(2).

 Estudo da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer(IARC) identificou os 9 principais fatores de risco associados a neoplasias. São eles: Tabagismo, Etilismo, Sedentarismo, Obesidade, Dieta carente em frutas e verduras, Exposição à poluição atmosférica e combustíveis sólidos, comportamento sexual de risco, compartilhamento de seringas. Esses fatores foram considerados responsáveis por 35% dos óbitos por Câncer(3).

Diferentemente, IMC<30, pratica regular de atividades físicas, dieta rica em frutas/legumes/verduras, aleitamento materno foram consideradas medidas potencialmente benéficas para prevenção contra determinados cânceres, como Esôfago, Estômago, Intestino, Mama, Pulmão, Rim, Fígado(4).

O Tabagismo é considerado a principal causa prevenível de câncer.  Além de constituir o fator de risco mais importante para câncer de pulmão(5,6), o tabagismo é considerado causa de Leucemia, Câncer de cavidades oral e nasal, nasofaringe, laringe esôfago, estômago, cólon, rim, bexiga.

Independente da carga tabágica e idade do indivíduo, a interrupção do tabagismo é sempre bem-vinda, uma vez que implica redução do risco de câncer, das demais doenças relacionadas ao tabaco e da mortalidade. (7).

A exposição à luz solar e radiação ultravioleta artificial é considerada a principal causa de neoplasias de pele do tipo melanoma e não-melanoma. A manifestação de determinados tipos de Cânceres de pele, como Cânceres de Células Escamosas e de Células Basais está relacionada ao tempo de exposição solar durante a vida. Apesar de a exposição cumulativa também aumentar o risco de Melanoma cutâneo, a exposição repetitiva e intensa, capaz de causar queimaduras solares, principalmente durante infância e adolescência, parece implicar maior risco.

Recomenda-se evitar exposição solar no período entre 10 e 16h e utilizar chapéis, óculos de sol, protetor solar com FPS maior ou igual a 30, roupas que confiram proteção contra radiação solar. (8).

A exposição à poluição atmosférica, oriunda principalmente de compostos provenientes de combustíveis fósseis, implica maior risco de câncer de pulmão. Importante enfatizarmos a necessidade de medidas que reduzam a emissão de poluentes pelas fábricas, usinas e diminuam a incidência de queimadas. Recomenda-se uso de mascaras, evitar permanência por tempo prolongado em locais com maior concentração de poluentes.

Sedentarismo está aparentemente associado a maior risco de câncer. Estudo demonstrou que a pratica regular de atividades físicas promoveu redução de 24% do risco de neoplasia de cólon. Interessante salientar que tal ganho foi verificado independentemente do impacto sobre o peso corporal, uma vez que ocorreu em pacientes com diferentes índices de massa corporal(9, 10-12).

Obesidade está associada a maior risco de diversas neoplasias, incluindo Adenocarcinoma de Esôfago, Adenocarcinoma gástrico, Colorretal, Hepatocelular,Vesícula Biliar,  Pâncreas, Ovário. A perda de peso é associada à redução da mortalidade por câncer.

Etilismo crônico aumenta o risco de diversas neoplasias. Estudos demonstraram que o consumo diário de 1 dose de bebida alcoólica por dia(10g álcool) aumenta o risco de neoplasias de orofaringe, esôfago, laringe, fígado, mama e reto. (13). A análise dos dados permite concluir que o risco de desenvolvimento de neoplasia é tão maior quanto mais significativo o consumo de bebidas alcoólicas(14).

Determinados componentes da dieta podem predispor ao câncer enquanto outros elementos exercem efeito protetor.  Dieta rica em gordura de origem animal pode ser fator de risco ao desenvolvimento de câncer de próstata. Elevados níveis do ácido alfa-linoleico e baixos níveis de acido linoléico, como verificamos na carne vermelha, parecem aumentar o risco, visto que influenciam os níveis de testosterona sérica (15). O consumo de carne vermelha também é associado a maior risco de câncer de cólon e reto, além de diversas doenças cardiovasculares (16-18).

O consumo regular de alimentos ricos em , por sua vez, é associado a menor risco de câncer colorretal, além de doenças cardiovasculares e diabetes(19). Estudos demonstraram redução de 9% no risco de câncer para cada 10g de alimentos com fibras consumidos ao dia.

Consumo de alimentos com elevado índice glicêmico promovem a liberação de insulina e fatores de crescimento. Atualmente, estudos estão sendo conduzidos com intenção de investigar o potencial desses hormônios em estimular a proliferação celular e aumentar o risco de neoplasias.

No que diz respeito à suplementação de vitaminas, aporte adicional de vitaminas C e E não demonstrou capacidade de prevenir contra câncer. (20). Estudos que investigaram a relação entre a vitamina D e câncer tampouco demonstraram potencial protetor(21-22).   

Infecções virais podem influenciar o ciclo celular e, dessa forma, desrregular o padrão de divisão das células. Infecção pelo Vírus Papilomahumano(HPV) esta associado a maior risco de câncer de colo uterino, pênis, canal anal, orofaringe, nasofaringe, laringe. (23). Infecção pelos vírus de Hepatites B e C estão associados a maior risco de Carcinoma Hepatocelular(Fígado)(24). Virus HTLV-1 estão associados ao risco de Leucemia de Células T(25). Vírus da Imunodeficiencia humana (HIV) está associado ao risco de Sarcoma de Kaposi, Linfoma não-Hodgkin, além de neoplasias diversas secundárias ao contexto de imunodeficiência adquirida(26). Vírus Epstein-Barr está associado a maior risco de Linfoma de Burkitt. (27). A infecção pela Bacteria Helicobacter pylori implica maior risco de neoplasias de trato gastrointestinal, incluindo Linfoma MALT.(28).

Vacinaçao contra HBV(administrada ao nascer, aos 2 e aos 6 meses) e contra  HPV(aos 10 anos) devem contemplar meninos e meninas. Há identificação de benefícios francos em prevenção das neoplasias implicadas pelos respectivos vírus. A realização do exame Citopatologico do Colo Uterino, recomendada a mulheres de 18 a 65 anos, causa importante redução na incidência da neoplasia de colo uterino. Atenção especial deve ser destinada às mulheres com mais de 65 anos, uma vez que percentual considerável de neoplasia de colo uterino é diagnosticada após essa idade. (29).

Profilaxia pré-exposição e terapia antiretroviral alteraram a incidência e curso da infecção pelo HIV e a incidência de neoplasias associadas. (30).

Mesmo com o desenvolvimento de novas técnicas para diagnóstico e tratamento de neoplasias, verificamos que o cumprimento dos protocolos de screening e adoção das medidas de precaução são importantes estratégias mais importantes na redução da mortalidade causada por cânceres.

 

REFERÊNCIAS

  1. Wolin KY, Carson K, Colditz GA. Obesity and cancer. Oncologist 2010; 15:556.
  2. Siegel RL, Miller KD, Fuchs HE, Jemal A. Cancer Statistics, 2021. CA Cancer J Clin 2021; 71:7.
  3. Danaei G, Vander Hoorn S, Lopez AD, et al. Causes of cancer in the world: comparative risk assessment of nine behavioural and environmental risk factors. Lancet 2005; 366:1784.
  4. Romaguera D, Vergnaud AC, Peeters PH, et al. Is concordance with World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research guidelines for cancer prevention related to subsequent risk of cancer? Results from the EPIC study. Am J Clin Nutr 2012; 96:150.
  5. Colditz G, Ryan CT, Dart CH. Lifestyle Behaviors Contributing to the Burden of Cancer. In: Fulfilling the Potential of Cancer Prevention and Early Detection, Curry S, Byers T, Hewitt M (Eds), The National Academies Press, Washington, DC 2003.
  6. Thun M, Day-Lally C, Myers E, et al.. Trends in tobacco smoking and mortality from cigarette use in Cancer Prevention Studies I (1959 through 1965) and II (1982 through 1988). In: Changes in Cigarette-related Disease Risk and their Implications for Prevention and Control, Burns D, Garfinkel L, Samet J (Eds), National Institute of Health, Washington, DC 1997.
  7. Curry S, Byers T, Hewitt M. Fulfilling the potential of cancer prevention and early detection.National Academic Press; Washington, DC 2003.
  8. http://www.who.int/features/qa/40/en/ (Accessed on October 23, 2017).
  9. Inoue M, Yamamoto S, Kurahashi N, et al. Daily total physical activity level and total cancer risk in men and women: results from a large-scale population-based cohort study in Japan.
  10. Martínez ME, Giovannucci E, Spiegelman D, et al. Leisure-time physical activity, body size, and colon cancer in women. Nurses' Health Study Research Group. J Natl Cancer Inst 1997; 89:948.
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  12. Hu FB, Willett WC, Li T, et al. Adiposity as compared with physical activity in predicting mortality among women. N Engl J Med 2004; 351:2694.
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  19. World Cancer Research Fund. Colorectal cancer: How diet, nutrition and physical activity aff ect colorectal (bowel) cancer risk. Available at: https://www.wcrf.org/dietandcancer/colorect al-cancer (Accessed on April 28, 2020).
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  2. International Agency for Research on Cancer (IARC). IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans: Hepatitis Viruses, Lyon, France 1994. Vol 59.
  3. International Agency for Research on Cancer (IARC). IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans: Human Immunodeficiency Viruses and Human T-Cell Lumphotropic Viruses, Lyon, France 1996. Vol 67.
  4. American Cancer Society. Cancer Facts and Figures 2005. American Cancer Society, Atlanta, GA 2005.
  5. International Agency for Research on Cancer (IARC). IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans: Schistosomes, Liver Flukes, and Helicobacter Pylori, Lyon, France 1994. Vol 61.
  6. International Agency for Research on Cacner (IARC). IARC Monographcs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans: Schistosomes, Liver Flukes, and Helicobacter Pylori, Lyon, France 1994. Vol 61.
  7. American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG practice bulletin. Cervical Cytology screening. Number 45, August 2003. Int J Gynaecol Obstet 2003; 83:237.
  8. Little RF. AIDS-related non-Hodgkin's lymphoma: etiology, epidemiology, and impact of highly active antiretroviral therapy. Leuk Lymphoma 2003; 44 Suppl 3:S63.