Consumo de cigarro no Brasil aumenta 34% na pandemia, segundo Fiocruz

Dia 29 de agosto é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Por isso compartilho com vocês um importante alerta: Apesar de o número de fumantes no Brasil ter caído nos últimos anos, [segundo o IBGE, em 2019, cerca de 12,6% da população com 18 anos ou mais, era usuária de produtos derivados de tabaco, enquanto em 2013 esse percentual era de 14,7%.], entre os que continuam com o vício, 34% declararam a um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz) terem aumentado o consumo durante a pandemia. Ainda de acordo com o estudo, este crescimento está associado à deterioração da saúde mental dos tabagistas, com piora de quadros de depressão, ansiedade e insônia.

 

Esse é um cenário muito preocupante, já que a nicotina é altamente viciante. Ao ser absorvida, ela atinge o cérebro entre 7 e 19 segundos, liberando substâncias químicas para a corrente sanguínea que levam a uma sensação de prazer e bem-estar. Essa sensação faz com que os fumantes usem o cigarro várias vezes ao dia. Nesses momentos de turbulência e incertezas que estamos vivendo, ele [o cigarro] acaba se tornando uma válvula de escape, infelizmente perigosa, cujos danos são silenciosos e podem prejudicar o organismo durante anos sem que o usuário perceba. Sendo assim, evitar o tabagismo ou suspendê-lo o mais precocemente possível favorece diretamente a prevenção e os riscos relacionados, que são muitos. Veja alguns:

 

O tabaco, em suas diferentes formas, [cigarro, charuto, cachimbo, narguilé, cigarro de palha, dispositivos eletrônicos para fumar, etc] contém mais de 4,5 mil substâncias tóxicas. Destas, 90 são comprovadamente cancerígenas. Além de estar associado ao câncer de pulmão, ele pode aumentar as chances de o fumante desenvolver ainda câncer de bexiga, esôfago e tumores de cabeça/pescoço, que envolvem laringe, orofaringe e cavidade oral. Isso sem falar de Acidente Vascular Cerebral, diabetes, hipertensão, impotência sexual e doenças respiratórias como bronquite, asma e pneumonia.

 

E neste momento de pandemia, a associação cigarro X coronavírus é extremamente danosa. Um estudo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia afirma, por exemplo, que fumantes têm 45% mais chances de desenvolver quadros graves Covid-19, caso sejam contaminadas pelo vírus respiratório. Isso acontece porque eles apresentam aumento expressivo da ECA2, enzima bastante presente nos pulmões, que permite ao coronavírus se conectar para infectar as células.

 

Tratamento do tabagismo

 

Em Belo Horizonte, o Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde está presente nos 152 Centros de Saúde da cidade. O tratamento começa com palestra sobre o programa, e segue com avaliação clínica, sessões de terapia individuais ou em grupo e oferta de medicamentos, caso seja necessário.

 

Para garantir assistência ao usuário, neste momento de pandemia, o tratamento tem ocorrido de maneira individual e com encontros de aconselhamento online. Os interessados devem procurar o centro de saúde próximo à residência para mais informações.

 

Se você tem dificuldade para abandonar o cigarro, saiba que parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida, mesmo se já estiver com alguma doença causada pelo tabaco. Segundo estudos do Instituto Nacional do Câncer (INCA), após 20 minutos sem uma tragada, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal. Depois de duas horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Passadas oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza e no prazo de 12 horas a um dia, os pulmões já funcionam melhor. Já após três semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora.

 

Pensa que os benefícios acabaram? Não, não! Após um ano livre do vício, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade e depois de uma década sem fumar, a chance de a pessoa sofrer infarto será igual ao daquelas que nunca fumaram.

 

Pense nisso e cuide-se. Sua vida é sua maior riqueza!

 

                                                

                                                 Daiana Ferraz – oncologista clínica