Exposição solar aguda no verão pode causar câncer de pele à longo prazo

O verão, acompanhado das férias e viagens, é um período de muita exposição solar. Neste momento, faz-se maior a necessidade de atenção aos cuidados com a pele, visto que o sol — em excesso e sem proteção — é o principal agente causador do câncer de pele. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, ele corresponde a 33% de todos os diagnósticos desta doença no Brasil e, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país tem, a cada ano, cerca de 185 mil novos casos da enfermidade.

Mas atenção: de maneira isolada, o verão não é o principal vilão. A doença é resultado, também, do excesso de exposição solar ao longo da vida e tende a surgir na idade média-avançada, acima dos 45-50 anos. Na estação mais quente do ano, o alerta é para a exposição solar aguda e para os riscos de queimadura solar, que aumenta a incidência de desenvolvimento do câncer de pele. Também estão mais propensos ao tumor, segundo o INCA, pessoas que se expõem a câmeras de bronzeamento artificial, com pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, além de albinos e com histórico familiar ou pessoal da neoplasia.

Existem dois tipos de tumores de pele: não melanoma e melanoma. O primeiro, mais comum na população, é dividido em dois subtipos, carcinomas basocelular e espinocelular. No caso do basocelular os sintomas geralmente aparecem por meio de lesões avermelhadas na pele, que podem formar crostas, inflamar ou até gerarem feridas que nunca se cicatrizam. Já no subtipo espinocelular pode haver destruição extensa no local atingido com úlceras de aumento progressivo e bordas infiltrativas.

O melanoma, por sua vez, tem origem nos melanócitos, células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele. Ele pode aparecer em qualquer parte do corpo, como em orelhas, face, antebraços, pescoço, glúteos, costas e outros locais de maior exposição ao sol. Inicialmente surgem como uma pinta comum. Porém, com o passar do tempo, elas podem apresentar assimetrias, bordas irregulares, variedade de cor, crescimento de tamanho/diâmetro, começar a sangrar ou apresentar novos sintomas. As regras ABCDE (assimetria/bordas/cor/diâmetro/evolução), por sinal, devem ser difundidas na população e lembradas para a identificação de uma potencial lesão maligna.

E um detalhe importante: Embora represente apenas 3% das doenças malignas do órgão, o melanoma é considerado o tipo mais grave do câncer de pele, devido à sua alta possibilidade de provocar metástase (disseminação do tumor para outras partes do corpo humano), além da necessidade de um tratamento mais complexo. Por isso é de grande importância que ele seja detectado em estágio inicial, para que não se agrave e haja maior chance de tratamento e cura. Em casos mais precoces, as chances de cura, inclusive, podem chegar a mais de 90%. Os tratamentos empregados envolvem cirurgia para ressecção da lesão primária, além de quimioterapia, radioterapia, terapias-alvo (em casos de mutações) e a imunoterapia. As duas últimas tem sido cada vez mais utilizadas nos quadros graves de melanoma e, felizmente, vem aumentando a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes.

Para que o diagnóstico ocorra quando a doença estiver no começo, é importante consultar com um dermatologista pelo menos uma vez ao ano para uma análise completa de todos os sinais e pintas do corpo, principalmente para os pacientes com fatores de risco e para aqueles com muitas manchas pelo corpo. Também é fundamental fazer o autoexame, ou seja, observar prováveis alterações na espessura, diâmetro e coloração das pintas, seguindo as regras do ABCDE já previamente mencionadas. Qualquer mudança suspeita deve ser investigada imediatamente por meio de uma dermatoscopia, exame no qual se usa um aparelho que permite visualizar algumas camadas da pele não vistas a olho nu, feita por um profissional médico capacitado. Se uma lesão suspeita for constatada e tiver características de malignidade, uma biópsia é solicitada para ratificar o diagnóstico.

A ajuda médica deve ser procurada, inclusive, se a lesão for do subtipo não melanoma, pois quando o paciente negligencia o problema, podem haver sequelas e dificuldade de remoção cirúrgica, interferindo na qualidade de vida, principalmente quando falamos em lesões de face, onde ressecções mais amplas causam até mesmo mutilações.

 

Prevenção

Além das consultas regulares ao dermatologista como forma de monitoramento, evitar a exposição prolongada ao sol, entre 10h e 16h, principalmente no verão, e usar protetor solar capaz de proteger contra a radiação UVA e UVB com fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo são fundamentais. Lembrando que é importante reaplicá-lo a cada duas horas ou menos, ou após contato com água ou suor e em atividades de lazer ao ar livre. O uso desses produtos deve ser feito, inclusive, em casa e até mesmo em dias frios. 

A Sociedade Brasileira de Dermatologia também orienta, na praia ou na piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvam 50% da radiação ultravioleta, e manter bebês e crianças protegidos do sol, já que a exposição prolongada, principalmente na infância, é fator de risco para a doença. Vale ressaltar que filtros solares podem ser usados a partir dos seis meses.

 

Daniella Pimenta, oncologista clínica