Câncer de ovário: oito a cada 10 casos são diagnosticados em estágio avançado

Apesar de ser um tumor incomum – a estimativa de casos para este ano é de 7,3 mil, segundo o INCA - o câncer de ovário é extremamente letal: o percentual de mulheres que morrem pela doença é de cerca de 60 a 70%, ou seja, aproximadamente 2/3 das pacientes irão perder a batalha para a enfermidade.

Outro agravante quando se fala sobre o tema, é que cerca de 80% dos casos são diagnosticados somente após a doença atingir os estágios mais avançados (os chamados estágios III e IV). Nesse cenário, as células do tumor já saíram do ovário e caíram na pelve ou no peritônio, membrana que reveste o intestino e os órgãos abdominais. A partir daí, dá-se início aos sintomas, que incluem dores pélvicas, inchaço, mudanças no padrão urinário, fadiga, perda de peso inexplicável e ascite, acúmulo de líquido dentro do abdômen. Muitas chegam ao consultório exatamente neste momento. Antes disso, dificilmente serão diagnosticadas, já que se trata de um tumor assintomático.

Várias pacientes sequer sabem da existência do nódulo ou o cisto na região. E um dos dificultadores é que não há exame de rastreio para identificá-lo.

Os diagnósticos em fase inicial, por sua vez, acontecem, na grande maioria das vezes, de forma bastante casual, quando as mulheres vão ao ginecologista e o médico solicita, por exemplo, um ultrassom transvaginal para investigar outro problema. Elas fazem o exame e acabam descobrindo o nódulo no ovário. Nessa situação dizemos que se trata de um achado incidental.

Cerca de 20% das mulheres com histórico familiar da doença ou mutações genéticas hereditárias, como as mutações BRCA1 e BRCA2, são mais suscetíveis ao diagnóstico positivo. Por isso é fundamental a paciente informar ao ginecologista se possui histórico da enfermidade no núcleo familiar, inclusive do câncer de mama. De posse dessa informação, o médico pode solicitar um teste para identificar a mutação genética e intervir precocemente com a cirurgia de remoção dos ovários, a ooforectomia profilática. Essa intervenção, por sinal, infelizmente acaba por comprometer a fertilidade, principalmente quando se trata de paciente jovem. Além das questões genéticas, já é provado, hoje, que a neoplasia também está associada a hábitos de vida não saudáveis, entre eles o tabagismo. Por sua vez, mulheres que, no decorrer da vida, passaram por gestações, usaram anticoncepcional e amamentaram os filhos, têm menores chances de diagnóstico.

 

Tratamento

 

A partir do diagnóstico confirmado, os médicos, geralmente, avaliam se a paciente iniciará o tratamento com uma cirurgia ou se será necessário já introduzir a quimioterapia, precedendo a intervenção cirúrgica. Caso se trate de um tumor muito inicial, confinado a um ovário, de tamanho muito pequeno e ainda sem comprometimento do peritônio, não haverá necessidade de quimioterapia prévia. Mas na grande maioria das situações, as mulheres que fazem a cirurgia, vão precisar complementá-la com quimioterapia.

Existem casos – muito raros e específicos – de tumores bem iniciais, onde pode ser discutida a possibilidade da retirada somente de um dos ovários, mas, isso, refere-se a cânceres classificados como extremamente iniciais. Nesses cenários, tentamos preservar a fertilidade da paciente jovem para que ela tenha sua prole e depois faça a retirada do outro ovário. Mas, infelizmente, na grande maioria dos casos, ela irá retirar os dois órgãos, as tubas uterinas e, muitas vezes, o útero.

Dada a dificuldade e inexistência de exames de rastreio da neoplasia, é importânte se consultar regularmente com ginecologistas. Apenas por meio desse controle, será possível tentar identificar o nódulo quando ele ainda não tomou o órgão ou invadiu outras áreas do sistema reprodutor feminino.

 

Dra. Roberta Dayrell, Oncologista