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O fantasma da solidão pós-diagnóstico: sete em cada 10 mulheres são abandonadas pelos parceiros após descoberta do câncer
Para além dos efeitos colaterais da quimioterapia e das incertezas do tratamento, muitas mulheres que estão enfrentando um câncer precisam ser fortes para lidar com outro fantasma cruel no pós-diagnóstico: a solidão. Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia revelam que 70% das pacientes oncológicas lidam com o abandono do parceiro após a descoberta da enfermidade. Isso deixa claro que há falta de reciprocidade aos cuidados que elas dispensam aos seus maridos quando eles adoecem, demonstrando a faceta de uma sociedade ainda machista ou mesmo da fragilidade do relacionamento que se supunha ser sólido.
Essa postura masculina – entre outros motivos - pode ser fruto de um estigma social ainda dominante na sociedade. O homem tem mais dificuldade de falar e lidar com alguns sentimentos que a descoberta da doença e o tratamento provocam. O parceiro também experimenta sentimentos de medo, insegurança e impotência diante do sofrimento que a paciente vivencia. Diferente das mulheres, os homens têm mais dificuldade de falar sobre o que sente, uma vez que a cultura, ainda machista, exige que eles não se mostrem vulneráveis. Há também um grande preconceito com relação à saúde mental e qualquer movimento de ajuda nesse sentido. Por isso, movidos, muitas vezes, pela inexperiência em lidar com todos os desafios que esse momento provoca no contexto familiar, acabam abandonando as parceiras.
Outro motivo que, em muitos casos, pode levar o homem a abandonar a mulher com câncer é a mudança drástica na relação conjugal imposta pela doença. A sexualidade da mulher pode sofrer alterações ao longo do tratamento por questões clínicas e emocionais. Do ponto de vista emocional, podemos dizer que a paciente pode vivenciar impactos na autoimagem e autoestima, assim como alterações do humor, o que reflete na sexualidade e no relacionamento do casal. É importante que o parceiro compreenda esses aspectos e auxilie a paciente no enfrentamento desse momento no relacionamento.
É fundamental que o parceiro ao identificar dificuldade de lidar com todos os sentimentos que a doença e o tratamento provocam, também procure ajuda psicológica para trabalhar esses aspectos emocionais. É possível que com que isso, ele esteja mais preparado para auxiliar a companheira a enfrentar o câncer e toda a repercussão na vida familiar.
Quando o paciente é ele - a mulher sempre está do seu lado. Quando o diagnóstico é dela, porém, na maioria dos casos, o suporte vem de outra mulher, seja a mãe, irmã, tia, amiga, isso quando não segue sozinha.
Apesar de o relacionamento ter terminado em um momento difícil e muitas vezes traumático, a vida da mulher continua, tem que continuar. Ela precisa concentrar suas energias em outros aspectos. É lógico que o sofrimento e o luto são inevitáveis, porém ela não deve deixar de direcionar sua atenção para outras coisas, também importantes, para além do relacionamento, e tentar ressignificar esse momento. Nesse sentido vale contar com uma rede de apoio sólida, como amigos/familiares e se preciso, suporte psicológico.
Natália Lopes – Psicóloga da Cetus Oncologia