Depressão de final de ano: como lidar com esse sentimento?
Estamos há poucas semanas do Natal e réveillon. Nesta época a felicidade parece estar no ar. Ela aparece nas luzes coloridas dos shoppings, nas praças enfeitadas e nas propagandas de TV, que vendem a, todo instante, a ideia de que deve-se ficar feliz neste período, no melhor estilo ‘gratiluz’ e good vibes. Há ainda a pressão da família, dos colegas e dos amigos, o que acaba acarretando, em um desgaste paradoxal: pessoas ficam infelizes porque se sentem na obrigação de estarem “bem”, “para cima”. Prova disso é que o Centro de Valorização da Vida (CVV) divulgou que, no mês de dezembro, principalmente durante o período de datas comemorativas, as ligações de pessoas pedindo ajuda costumam aumentar 15%.
A chamada depressão de final de ano pode acontecer devido ao simbolismo que o período carrega. Nesta época as pessoas costumam refletir sobre tudo que fizeram. Geralmente quando o saldo não é muito positivo, elas tendem a se frustrar, ficarem mais tristes. Muitas, inclusive, acabam sucumbindo pois não conseguem se deparar com essa fragilidade e o sentimento de impotência ou fracasso.
Vale reforçar ainda que o mundo de aparências das redes sociais também pode despertar um sentimento de exclusão em várias pessoas que não se sentem envolvidas pelo midiático ‘espírito natalino’. “Elas [as redes sociais] vendem muitos clichês. O comércio, de modo geral, se apropria disso e cria a necessidade do consumo exagerado. Com isso, a sensação que se tem é de que a felicidade só está naquilo que aparece e é visível aos olhos dos outros: no closed cheio de roupas novas, nos posts mostrando as fotos do réveillon na praia. Logo, quem se sente a margem desse sistema opressor, infelizmente, fica mais vulnerável. Há ainda, segundo ela, os casos em que as pessoas acabam comprando em excesso, nestas datas, apenas para camuflar as tristezas, decepções e inseguranças diante da vida.
Como lidar com essa época?
A melhor forma para quem deseja minimizar a sensação de depressão e tristeza que pode surgir nesta época de festas ou não ser tomado pela onda exacerbada de consumo só para se sentir inserido socialmente, é entender que a verdadeira felicidade não é algo tangível, que se compra ou vem de fora. Quem está se sentindo vazio por achar que ela [felicidade] é medida por aquilo que temos e não somos, deve, começar aos poucos, ter pequenas atitudes de gentileza no dia a dia, inclusive com pessoas desconhecidas, e não focar apenas em si.
O trabalho voluntário em instituições filantrópicas pode ser uma alternativa nesse caminho. Quando ajudamos os outros de forma genuína, começamos a nos sentir mais úteis e a buscar os pequenos prazeres em algo que está dentro de nós e não nas circunstancias ou nos outros.
A partir do momento em que desenvolvemos essa postura humana, vamos nos nutrindo com sentimentos mais positivos, capazes de preencher a alma, como o amor, a bondade e a resiliência. O final do ano e a forma midiática como ele é vendido é algo que sempre vai existir. O mais importante é tentarmos entender que esse momento é só uma convenção estabelecida em calendário. O que deve mudar é a forma como encaramos essa passagem e quais forças iremos precisar para superarmos insucessos, traumas e até perdas, que vão além de Natal e réveillon.
Adriane Pedrosa - Psicóloga