Comer transtornado é diferente de transtorno alimentar; conheça o termo

Além dos transtornos alimentares, como anorexia, bulimia ou compulsão alimentar, doenças psiquiátricas que afetam o comportamento alimentar, há outra condição que atinge cada vez mais pessoas, mas que não é uma doença: o comer transtornado, que pode ser gatilho para distúrbios graves.

Pessoas que vivem fazendo dieta, compensações o tempo todo, pulam refeições ou excluem grupos alimentares inteiros (como carboidratos, por exemplo) são as que têm o chamado ‘comer transtornado’. Trata-se de um meio de campo entre o comer normal e o transtorno alimentar. Esse paciente tem comportamentos parecidos com os de um transtorno, mas não fecha critérios para cravar o diagnóstico.

Essas pessoas, por exemplo, ao exagerarem em uma festa, no dia seguinte não comem nenhum carboidrato. Há aquelas também que dizem, ‘nossa, perdi o controle no chocolate ontem. Vou ter que ficar mais tempo na academia hoje’ ou ‘não deveria comer esse pão porque ele me engorda’.

Existem poucos dados sobre o comer transtornado, mas, baseada em minha experiência vejo o crescimento no número de pessoas com esses comportamentos. Acredito, inclusive, que esse problema vem se disseminando, principalmente, em decorrência das nossas más relações com os alimentos. Isso porque muitos de nós viemos de uma cultura que ensina, sem muito embasamento, sobre comidas ‘boas e ruins’, proibidas e permitidas. Essa classificação, muitas vezes preconceituosa e sem conhecimento científico, cria um equívoco na cabeça das pessoas, que passam a, por exemplo, eliminar o chocolate, simplesmente por achar que ele é ruim. A questão não é o chocolate, o alimento em si, mas o excesso, a quantidade ingerida.

Podemos comer de tudo, claro se não tivermos nenhuma restrição prévia por doença ou recomendação nutricional/médica, porém o mais importante é que seja feito um trabalho de conscientização e educação alimentar.

Tratamento

No comer transtornado não há necessidade de medicação para tratar, mas de acompanhamento com nutricionista especializado e, até mesmo, psicoterapia. O principal ponto a ser desenvolvido com os pacientes nessa condição é a necessidade de fazê-los reduzirem o julgamento sobre quais seriam os alimentos bons e os ruins, os ‘engordativos’ ou os emagrecedores.

Resgatar os sinais de fome e saciedade e entender as necessidades do corpo são outros aspectos utilizados no tratamento do comer transtornado e desenvolvidos, inclusive, na nutrição comportamental. Viver na neurose da preocupação do que é ou não saudável e viver de dieta não é normal, mesmo que seja, hoje, socialmente aceitável. Isso tira a espontaneidade do comer e elimina seu prazer.

Quando a situação de transforma em doença?

Para ser diagnosticado como uma doença, o transtorno deve acontecer em uma frequência e intensidade específicas. Quando o ato de comer, para essa pessoa, passa a não ser normal e há um sofrimento muito grande relacionado ao corpo, é recomendado buscar ajuda com um profissional especializado. É comum perceber nesses pacientes outras doenças como depressão e ansiedade – por isso, os tratamentos dos transtornos alimentares são realizados com medicações específicas, além da ajuda de uma equipe multidisciplinar. Além do psiquiatra, é necessário o acompanhamento psicológico e de nutricionista especialista no tema.

O diagnóstico preciso é outro ponto importante, sobretudo na compulsão alimentar, já que é comum as pessoas confundirem compulsão com exagero. Temos que entender frequência e intensidade. É natural que em eventos sociais, como Natal e Réveillon, que se aproximam, a gente exagere, ou sinta vontade mesmo sem fome. Mas isso não é algo que ocorre sempre, causa sofrimento ou nos impede de parar. A compulsão, por sua vez, é bem complexa e demanda o atendimento de profissionais especializados.

Gisele Magalhães – Nutricionista