Idosos podem ter prioridade no tratamento de câncer

De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), 70% dos casos de câncer no mundo ocorrem na terceira idade. Aprovado pelo Senado Federal, tramita na câmara dos deputados o Projeto de Lei n° 1067, de 2022, apresentado pelo senador Jader Barbalho, do MDB do Pará, a PL tem como intuito priorizar o atendimento de idosos com câncer na rede hospitalar.

A aprovação de uma lei que priorize os idosos no tratamento contra o câncer irá auxiliá-los, fornecendo acesso mais rápido a cuidados médicos. Esse tratamento prioritário é crucial uma vez que o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para a eficácia do tratamento da doença.

Dentre os tipos mais comuns de câncer na terceira idade, estão o câncer de próstata, de mama, de pulmão, colorretal, de bexiga, entre outros. Entre os idosos, existem desafios específicos em relação ao tratamento contra a doença devido à idade. Questões como baixa tolerância a tratamentos agressivos, presença de condições médicas crônicas e complexidades relacionadas à polifarmácia (uso rotineiro de quatro ou mais medicamentos, com ou sem prescrição médica, por um paciente), são alguns dos desafios específicos no tratamento do câncer em idosos.

A oncogeriatria é um campo da medicina que se concentra no tratamento de pacientes idosos com câncer. Ela reconhece a importância de abordagens de cuidados de saúde específicas para essa população, considerando suas necessidades e desafios únicos. Os pilares da oncogeriatria incluem:

  1. Avaliação abrangente: Isso envolve a avaliação completa do estado de saúde do paciente idoso, incluindo não apenas o câncer, mas também suas condições médicas pré-existentes, capacidade funcional, saúde mental e qualidade de vida.
  2. Estratificação de risco: A determinação do risco individual ajuda a adaptar o tratamento e as intervenções, considerando fatores como idade, comorbidades e fragilidade.
  3. Tomada de decisão compartilhada: Incentiva-se a colaboração entre médicos, pacientes e suas famílias na escolha de opções de tratamento, levando em consideração os objetivos de vida e as preferências do paciente.
  4. Ajustes no tratamento: A oncogeriatria considera a adaptação de protocolos de tratamento para minimizar os impactos negativos nos pacientes idosos, incluindo a redução de toxicidade e efeitos colaterais.
  5. Cuidados paliativos: A atenção à qualidade de vida e ao alívio de sintomas é fundamental na oncogeriatria, independentemente da perspectiva de cura. Os cuidados paliativos podem ser uma parte integral do tratamento.
  6. Treinamento de profissionais de saúde: O desenvolvimento de competências específicas em oncogeriatria é importante para garantir que os médicos estejam bem preparados para atender às necessidades dos pacientes idosos com câncer.

Ferramentas da Oncogeriatria que auxiliam a avaliação do idoso com câncer

A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma ferramenta fundamental na oncogeriatria e no atendimento de pacientes idosos em geral. Ela é projetada para avaliar de forma abrangente o estado de saúde de pacientes idosos, considerando não apenas o câncer, mas também outras condições médicas, fragilidade e a capacidade funcional. A AGA geralmente inclui avaliação médica completa, avaliação funcional, que consiste em examinar a capacidade do paciente para realizar atividades diárias, como vestir-se, tomar banho, andar, entre outras, avaliação cognitiva, incluindo avaliação de memória, atenção e raciocínio, avaliação emocional e psicossocial, nutricional, de comorbidades, e avaliação de medicação, que incluir a revisão da lista de medicamentos do paciente para identificar possíveis interações e efeitos colaterais.

A Avaliação Geriátrica Ampla fornece uma visão completa da saúde do paciente idoso e ajuda os profissionais de saúde a tomar decisões informadas sobre o tratamento, adaptando-o às necessidades e características individuais do paciente. Isso é particularmente importante na oncogeriatria, onde o equilíbrio entre a eficácia do tratamento e a qualidade de vida do paciente desempenha um papel crucial.

Já o CARG (Cancer and Aging Research Group) Score é um sistema de avaliação utilizado na oncogeriatria para avaliar o risco de toxicidade e complicações em pacientes idosos submetidos ao tratamento do câncer. Ele leva em consideração diversos fatores, incluindo a idade do paciente, comorbidades, capacidade funcional e outros indicadores de saúde.

O CARG Score ajuda os profissionais de saúde a estratificar os pacientes idosos em grupos de risco com base em sua capacidade de tolerar tratamentos agressivos e a identificar aqueles que podem precisar de ajustes no tratamento para minimizar a toxicidade e os efeitos colaterais.

A pontuação CARG pode variar de 0 a 14 pontos e é calculada com base em respostas a perguntas sobre idade, presença de comorbidades, capacidade funcional e outras informações relevantes. Quanto maior a pontuação, maior o risco de complicações durante o tratamento. Isso ajuda os médicos a personalizar o tratamento para atender às necessidades individuais de cada paciente idoso com câncer.

Dra. Daiana Ferraz - Oncologista