Se toque para a vida

Ainda de acordo com o órgão, mais de oito mil, deste total, serão em pacientes com menos de 40 anos, o que corresponde a mais de 12% dos novos casos. Os números tornam ainda mais evidente a necessidade do cuidado precoce. E ele pode ser prático, por meio de um simples toque no dia a dia: o autoexame.

O método sozinho não previne o câncer de mama, mas é crucial para ajudar você, mulher, a conhecer seu próprio corpo e procurar um especialista se encontrar algo diferente.

 

Antigamente a recomendação dos médicos era que o autoexame fosse realizado em determinadas épocas do mês, como por exemplo alguns dias após o período menstrual. Porém, com o passar do tempo, essa medida tornou-se mais individualizada, ou seja, a mulher deve se tocar sempre que se sentir confortável para tal - seja no banho, no momento da troca de roupa ou em qualquer outra situação do cotidiano.

 

Além do nódulo, outros sinais detectáveis com o simples toque do autoexame podem indicar a presença de um tumor maligno, como alterações na cor da pele da mama, entre elas vermelhidão, pele retraída ou enrugada parecida com casca de laranja; e excreção de líquido anormal pelos mamilos.

 

A boa notícia sobre o tema é que 80% dos nódulos nas mamas são benignos e apenas 20% são considerados malignos. Geralmente o primeiro, seja na mama ou axila, é redondinho, móvel e elástico. Por outro lado, se você apalpá-lo e sentir que ele é fixo, cheio de ondulações e endurecido, pode estar com um nódulo maligno.

 

Mas atenção: essa identificação só é feita quando a mulher passa por uma avaliação médica, ok?

 

Caso você descubra alguma alteração nas mamas, o primeiro passo é marcar uma consulta com um profissional especializado, ginecologista ou mastologista. Dependendo da sua idade, estes profissionais poderão solicitar exames como ultrassonografia ou mamografia para avaliar o nódulo identificado no autoexame. Se a partir dos resultados as suspeitas de um tumor aumentarem, um fragmento do nódulo é enviado para biópsia em laboratório. Essa análise irá constatar se o material coletado se trata de um tumor maligno ou não.

 

Aproveito para deixar aqui outro alerta: por mais que o carocinho pareça pequeno ao ser palpado, ele pode já estar grande do ponto de vista da mamografia ou da ultrassonografia. Por isso, em hipótese alguma, negligencie a ajuda médica por achar que seu nódulo ainda é ínfimo. Qualquer percepção de alteração nas mamas deve ser investigada imediatamente. Quando você toca o seu corpo, está, sobretudo, se tocando para a vida.

 

O ideal é que este autocuidado entre na sua rotina, de forma geral, a partir dos 35 anos. Nesta idade, espera-se que todas as mulheres conheçam mais suas mamas para, assim, conseguirem identificar prováveis alterações. Caso você tenha histórico familiar da doença, deve começar os exames de rastreamento e prevenção de forma ainda mais precoce. Um exemplo: se sua tia teve câncer de mama aos 40 anos, o ideal é que comece suas mamografias anuais aos 30, ou seja, 10 anos antes da incidência da doença na família.

 

Para a população de modo geral, a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia e das Sociedades Americana e Europeia de Mastologia é que a mamografia anual comece a ser feita partir dos 45 anos, independentemente se você encontrou ou não nódulos no autoexame. A realização desse procedimento clínico de forma sistemática, reduz a mortalidade pelo câncer de mama em aproximadamente 30%.

 

Outra importância da mamografia, no caso de um diagnóstico de câncer já confirmado, é o fato dela ser um alicerce no planejamento do tratamento. Mesmo as mulheres que tenham nódulos maiores e palpáveis, precisam realizá-la para que o mastologista avalie as características e o tamanho [do nódulo] e possa fazer também a avaliação em conjunto da outra mama.

 

Assim que a mamografia entrar na sua rotina de check-ups, alguns cuidados devem ser tomados sempre que você se submeter ao exame:

 

- O primeiro deles é ter certeza absoluta de que não está grávida. Isso porque todo procedimento que libera radiação, como é o caso da mamografia, deve ser evitado durante a gestação.

 

- É importante que evitar usar cremes na região das mamas e desodorante nas exilas no dia da avaliação. Esses produtos podem causar artefatos na imagem.

 

- Mulheres com prótese de silicone, podem [e devem] fazer a mamografia. O implante não impede a realização do exame.

 

Finalizo esse texto com um recado crucial: não se descuide nunca, principalmente neste momento de pandemia em que muitas mulheres, infelizmente, interromperam as mamografias de rotina ou sequer vêm fazendo o autoexame. Essa postura, infelizmente, pode se refletir em diagnósticos tardios em um futuro não tão distante.

 

Se você não sabe como se tocar, em breve o Cetus Oncologia vai lançar um hotsite com autoexame digital interativo, que irá instigar a mulher a tocar/clicar no seio enquanto lê uma explicação de como o procedimento é feito. Já no próximo dia 19, data em que é celebrado o Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama, o meu colega, Dr Charles Pádua, vai participar de uma live no instagram da Rádio Band News FM (@radiobandnewsbh) para orientar a população sobre todos os aspectos da doença.

 

Teremos também, ao longo deste mês, uma série de conteúdos escritos por outros médicos aqui no blog para informar você, afinal sabemos bem que a informação, ao lado do autocuidado, também salva vidas ❤

        

                                                  Nara Andrade – Oncologista clínica