Mitos e verdades sobre o câncer: o que realmente importa para prevenir e tratar a doença

O câncer é uma das principais causas de morte no Brasil. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o país deve registrar 704 mil novos casos da doença até o fim deste ano, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. 

Mesmo com avanços expressivos no diagnóstico e no tratamento — que permitem taxas de cura superiores a 90% em alguns tipos detectados precocemente — a enfermidade ainda carrega estigmas que atrapalham o enfrentamento. Crenças equivocadas, disseminadas socialmente e nas redes, levam pessoas a atrasarem a busca por ajuda médica, ignorarem sinais de alerta ou apostarem em métodos sem comprovação científica. Para ajudar a distinguir fatos de desinformações, a oncologista clínica Daniella Pimenta, da Cetus Oncologia - clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem – traz informações importantes sobre a doença. Confira:

 

MITOS & VERDADES DO CÂNCER

Ping-pong com a oncologista clínica Daniella Pimenta – Cetus Oncologia

 

Por que ainda existem tantos mitos relacionados ao câncer — e como eles podem prejudicar o diagnóstico e o tratamento?

Infelizmente, essas falsas crenças fazem com que pacientes sigam orientações sem base na realidade. Um dos mitos mais comuns é que câncer é sentença de morte. Isso não é verdade. Quando diagnosticados no início, tumores de mama, intestino e próstata têm alta taxa de cura — no câncer de mama inicial, por exemplo, ela ultrapassa 90%. Outro mito é o de que “açúcar alimenta o câncer”. Na verdade, o problema é uma dieta inflamatória, rica em gorduras, frituras e ultraprocessados. Uma alimentação equilibrada, com verduras, legumes, frutas (até cinco porções ao dia para não diabéticos), fibras e boa ingestão de líquidos, somada à prática regular de atividade física e zero tabagismo, é fundamental na prevenção. Vacinas como HPV e Hepatite B também previnem tumores e precisam ser valorizadas.

 

Todo tumor é câncer? Qual a diferença entre tumores benignos e malignos?
Nem todo tumor é câncer. Tumor é qualquer massa detectada no corpo, que pode ser benigna ou maligna. A confirmação vem por exames como biópsia e imagem. Tumores benignos, como cistos e hemangiomas, não são câncer. Já os malignos são os cânceres que necessitam de tratamento oncológico.

 

O câncer pode ser contagioso? Por que esse mito ainda existe?
O câncer em si não é contagioso. O que pode ser transmissível são alguns fatores de risco, como o HPV e o vírus da hepatite B ou C, que aumentam chances de certos tipos de tumores. O tabagismo passivo também eleva riscos. Há ainda aspectos hereditários, como a mutação pelos genes BRCA1 e BRCA2, que aumenta o risco de câncer de mama e ovário em mulheres e próstata e pâncreas em homens — e que já pode ser pesquisada gratuitamente no SUS em Minas Gerais. Mas herança genética não é destino: apenas um risco maior, e acompanhamento médico especializado é essencial.

Alimentação “antioxidante” realmente ajuda a prevenir o câncer? E existe comida que causa câncer?

Antioxidantes ajudam a retardar o envelhecimento celular e podem contribuir indiretamente para a prevenção. Já alimentos ultraprocessados e com alto teor de gordura e açúcares aumentam inflamação e o risco de neoplasias. Portanto: equilíbrio e qualidade importam muito.

 

Somente pessoas com histórico familiar devem se preocupar com exames regulares?
Não. Todos precisam de prevenção e rastreamento. Mamografia, Papanicolau, colonoscopia e avaliação da próstata, conforme recomendação médica

 

Estresse e ansiedade podem causar câncer?

Não há evidência científica de relação direta. Porém, o estresse crônico pode piorar hábitos de vida — o que, sim, aumenta o risco de doenças, inclusive câncer, de forma indireta.

 

Quimioterapia e radioterapia sempre deixam sequelas graves? O que mudou nos últimos anos?

Não necessariamente — e isso é cada vez menos comum. Hoje há medicações modernas para manejar efeitos adversos, além de maior foco da ciência na qualidade de vida. Estudos recentes mostram que atividade física regular e dieta rica em nutrientes para pacientes oncológicos reduzem toxicidades, melhoram resposta ao tratamento e impactam diretamente na taxa de cura.

 

O câncer em pessoas jovens realmente aumentou? O que pode explicar esse movimento?

Sim, principalmente o câncer colorretal. Há forte relação com maus hábitos alimentares, sedentarismo, sono ruim e consumo de ultraprocessados. Fica o alerta: perda de peso sem explicação, sangramentos, dor persistente, tosse contínua e feridas que não cicatrizam precisam de avaliação imediata.

 

Existe risco em tentar tratamentos alternativos no lugar do indicado por um médico?

Sim. Tratamentos alternativos não têm comprovação robusta. Podem atrasar terapias eficazes e comprometer o resultado. Quando o paciente desejar usar algo complementar, é indispensável conversar com o oncologista para avaliar segurança e possíveis interações.