Brasil registra queda no número de mortes por Câncer durante pandemia, mas motivo é falta de diagnóstico

O Brasil registrou queda no número de mortes por câncer durante a pandemia, de acordo com dados do Radar do Câncer divulgados durante o 12º Fórum Nacional Oncoguia, realizado virtualmente no último dia 26.

Na comparação entre 2019 e 2021, houve redução de 6,4% dos óbitos por câncer de mama; 6,6% por câncer de próstata; 8,1% por câncer de traqueia, brônquios e pulmão; 10,3% por câncer de esôfago; 13,4% por linfoma de Hodgkin; e 13,7% por câncer da cavidade oral.

A queda na mortalidade, no entanto, acende o alerta para a baixa adesão aos exames diagnósticos. De acordo com o levantamento, durante os primeiros dois anos de pandemia, exames de mamografia, biópsia, colonoscopia e PSA registraram baixas consideráveis. O método de rastreio do câncer de mama, por exemplo, teve queda de 42,1% na comparação com 2019. Já em 2022, com base nos dados disponíveis até fevereiro, a demanda pela mamografia caiu em 18,4%. Em relação ao PSA, que detecta indícios de câncer de próstata, a queda registrada até fevereiro de 2022 já superou a do primeiro ano de pandemia: neste ano a redução foi de 68,1% e em 2020 de 42,2%.

Diante dos dados acima expostos, é fundamental não negligenciar esses dois exames, essenciais no diagnóstico dos tipos de cânceres que mais acometem homens e mulheres em todo o Brasil. A mamografia é capaz de identificar lesões que o toque nas mamas não consegue ver. Já o PSA, que sozinho não faz o diagnóstico direto do câncer de próstata, chama a atenção para uma possível presença da doença. Quando essa enzima, produzida pelas células da próstata, aparece em grande número nos exames (em homens com mais de 65 anos o valor de referência é de até 4ng/ml) pode indicar alterações na glândula e aumentar, com isso, a necessidade de uma biópsia, que pode de fato diagnosticar o tumor.

 

Aumento de tumores avançados

Assim como revelam uma queda no número de exames por conta da pandemia, os dados recentes do Radar do Câncer mostram que o número de pessoas que chegam ao consultório com o tumor em estágio avançado cresceu. Na comparação entre 2019 e 2021, por exemplo, houve um aumento de 12% em relação ao câncer de mama, 5% do câncer de próstata e de 11% sobre os casos de câncer da glândula tireoide.

É óbvio que o isolamento social e a redução do trabalho, além dos esforços da comunidade médica voltados para a Covid 19, aliados ao medo da população de sair de suas casas e a dificuldade na procura de exames foram primordiais para explicar esse cenário, porém não podemos deixar de enfatizar que uma doença descoberta tardiamente, infelizmente, pode aumentar as chances de um desfecho nada favorável para o paciente, já que em alguns casos não é mais possível a cura, apenas cuidados paliativos.

Não posso deixar de pontuar, também, que a demora no diagnóstico do câncer pode deixar o paciente mais debilitado para fazer a quimioterapia, tendo em vista que a doença pode provocar anemia e outras alterações clínicas e laboratoriais. Os procedimentos serão ainda mais invasivos e, consequentemente, causarão mais efeitos colaterais para a saúde do paciente como um todo.

Por fim, um último recado: apesar de os tratamentos atuais, que incluem quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, imunoterapia, terapia-alvo, dentre outros meios, estarem se mostrado cada vez mais eficazes, e com isso prolongando a vida de diversos pacientes, o melhor a se fazer, sempre, é ficar atento aos sinais do corpo e nunca abrir mão de uma rotina de exames preventivos. Qualquer doença descoberta precocemente traz muito menos problemas para o paciente. As chances de cura são infinitamente maiores, as intercorrências durante o tratamento serão menores, quase nulas. Isso sem falar dos gastos durante todo o processo. Um estudo feito pelo Observatório de Oncologia revelou, inclusive, que o custo médio por paciente no tratamento para o câncer de mama no estágio inicial fica em torno de R$ 11,3 mil. No terceiro estágio, o valor médio sobe para R$ 55 mil, quase cinco vezes mais caro. Por isso, prevenir é sempre a melhor opção. Temos, cada vez mais, que difundir a cultura da saúde preventiva e não da curativa.

 

Elisa Fontes– Oncologista Clínica