Minas é o segundo estado do país no ranking de casos anuais de leucemia
Neste mês marcado pela campanha Junho Laranja, dedicada à conscientização sobre a anemia e leucemia, uma notícia triste para os mineiros: o estado é o segundo do país no ranking de casos anuais da leucemia. De acordo com o último levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Minas Gerais teve uma estimativa de 990 novos diagnósticos da enfermidade em 2023. O número nos coloca atrás apenas de São Paulo, cuja expectativa foi de 2.600 registros da doença no ano passado. Ceará (850), Rio de Janeiro (810) e Santa Catarina (760), aparecem na terceira, quarta e quinta posição, respectivamente.
A leucemia envolve as células sanguíneas e tem origem na chamada ‘fábrica do sangue’, que é a medula óssea, tecido líquido-gelatinoso localizado no interior dos ossos, conhecido popularmente como tutano. Essa fábrica adoece e começa a produzir células tumorais que ocupam o espaço na medula, fazendo com que as células normais não sejam produzidas adequadamente.
Os subtipos principais da doença são a leucemia mieloide aguda (LMA) e a leucemia linfoblástica aguda (LLA), esta segunda é o câncer pediátrico mais comum, porém, com o envelhecimento da população, temos visto muitos casos de LMA em idosos.
Os sintomas da leucemia aparecem justamente por causa das alterações que a doença causa no sangue, entre eles fadiga, falta de ar, fraqueza e palidez. O fato de as células doentes se replicarem com velocidade e ocuparem a medula óssea, prejudica a produção das células normais. Consequentemente os glóbulos vermelhos começam a diminuir, o que causa anemia. Laboratorialmente, a anemia é definida, segundo a definição diagnóstica da Organização Mundial de Saúde (OMS), como hemoglobina menor que 12g/dl em mulheres e 13g/dl em homens. Vale ressaltar, entretanto, que nem toda anemia significa indício ou risco de leucemia.
A leucemia pode aumentar as chances de sangramento justamente por interferir na produção das plaquetas, células envolvidas no processo de coagulação, além de causar diminuição dos glóbulos brancos, responsáveis pela defesa imunológica. Com isso, o paciente fica mais suscetível a infecções.
O principal exame que ajuda no diagnóstico é o hemograma completo. Um resultado alterado, ou seja, com baixo número de plaquetas e a presença de blastos, (células doentes), já acende o alerta.
O próximo passo é realizar o mielograma, também conhecido como exame de medula óssea, no qual retira-se um mililitro do líquido presente no osso para ser examinado.
Transplante de medula óssea
O transplante de medula óssea, que irá substituir o tecido doente por outro saudável, nem sempre será o único caminho para a cura. A decisão pelo procedimento vai depender de alguns fatores como a estratificação do risco do paciente, sua biologia molecular, as mutações genéticas adquiridas detectadas no diagnóstico, entre outros critérios.
O processo tem início com testes específicos de compatibilidade, onde são analisadas amostras do sangue do receptor e do doador, buscando a melhor combinação possível. A partir daí o doador é submetido a um procedimento feito em centro cirúrgico, sob anestesia, com duração média de 90 minutos.
O paciente, por sua vez, recebe a medula sadia como se fosse uma transfusão de sangue. Uma vez na corrente sanguínea, as novas células circulam e vão se alojar na região, onde se desenvolvem. Os riscos são praticamente inexistentes para o doador. Dentro de poucas semanas, sua medula óssea estará inteiramente regenerada.
O grande desafio ainda é encontrar doadores não aparentados compatíveis, um a cada 100 mil segundo estimativas do Ministério da Saúde. É quase que ganhar na loteria. Por isso é importantíssimo que as pessoas se cadastrem como doadoras. Assim poderemos, quem sabe, salvar mais pacientes.
Marcela Carneiro, Hematologista