Inimigo perigoso: consumo de cigarro eletrônico sobe 600% no Brasil
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o consumo de tabaco caiu 35% no Brasil nos últimos 14 anos, o que o coloca na lista de 150 países que vêm tendo êxito na redução do tabagismo. Por outro lado, a utilização do chamado vape, o cigarro eletrônico, subiu 600% por aqui desde 2018, conforme pesquisa do Ipec, que aponta quase três milhões de usuários.
O aroma, o sabor e o formato dos cigarros eletrônicos podem até ser diferentes dos convencionais, mas os riscos à saúde são os mesmos. Ainda que esteja disfarçado de algo recreativo, ele também é derivado do tabaco e, por isso, causa a inalação de monóxido de carbono, alcatrão e tantas outras substâncias prejudiciais ao organismo. Além disso, contém 6x mais nicotina, uma droga que por atingir o sistema nervoso com tamanha rapidez, eleva os níveis de um neurotransmissor chamado dopamina, responsável pelas sensações de prazer, causando dependência.
Os principais riscos do consumo do cigarro eletrônico são as doenças respiratórias e cardiovasculares, como infarto, morte súbita e hipertensão arterial. Há, ainda, a possibilidade de o usuário contrair a doença pulmonar chamada Evali, sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), os principais sintomas são tosse, dor torácica e dispneia, além de dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, febre, calafrios e perda de peso.
As entidades médicas entendem que o vape é uma grave ameaça à saúde pública brasileira, visto que estes dispositivos têm forte poder aditivo e contam com a presença de diferentes substâncias cancerígenas.
Pelo fato de os cigarros eletrônicos serem mais populares entre adolescentes e jovens, os pais e responsáveis devem ficar atentos aos hábitos dos filhos. Como geralmente eles são pequenos, podem ser facilmente escondidos em estojos/bolsos e diferentemente do convencional, o modelo eletrônico não utiliza fogo, uma vez que funciona a bateria. Isso sem falar que é apresentado em diferentes formatos, como pen-drive e caneta. Além disso, a formulação inclui aditivos para saborizar a fumaça e mascarar os efeitos danosos do consumo.
A melhor opção, tanto para o consumo dos cigarros eletrônicos quanto dos convencionais, é sempre parar de fumar. Quem deseja interromper o vício, mas não consegue fazer isso de forma autônoma, deve procurar a unidade de saúde mais próxima de casa ou do trabalho. O tratamento consiste em encontros individuais ou em grupo com médico e equipe. Durante esse caminho, será avaliado o grau de dependência do paciente em relação ao cigarro e a partir daí a necessidade de um plano terapêutico individual, de modo cognitivo-comportamental e medicamentoso, se necessário.
O mais importante, é que independentemente do tempo de vício/consumo, cessar o tabagismo trará benefícios indiscutíveis para o funcionamento pulmonar.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, basta que o organismo fique 20 minutos sem tabaco para que a pressão sanguínea e a pulsação voltem ao normal. Após duas horas, já não haverá mais nicotina circulando no sangue e passadas 12 a 24h, os pulmões já funcionam melhor. A partir de um ano sem cigarro, o risco de desenvolver doença coronariana cai pela metade em relação a um fumante e já em 10 anos, as chances de diagnóstico de câncer de pulmão também caem 50%.
Daiana Ferraz, oncologista