‘Comer emocional’: você sabe o que isso significa?

Essa fome tem uma explicação. À medida em que socializamos, convivemos com pessoas, viajamos e nos divertimos, damos vazão aos pequenos, mas importantes, prazeres do dia a dia. Com isso o cérebro libera dopamina, neurotransmissor que proporciona uma sensação de bem estar. Como estamos impedidos de sair de casa para viajar, divertir, socializar, encontramos nos alimentos essas válvulas de escape.

 

Mas atenção: esse tipo de comportamento pode ser perigoso. Quando as pessoas comem sem saber o porquê e sem fome, normalmente não o fazem com qualidade. Recorrem a pratos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura. Esses alimentos, por sinal, também liberam neurotransmissores que proporcionam a sensação de prazer. Eles acabam funcionando como uma compensação, uma forma de suprir os hábitos gostosos que tínhamos na vida normal, antes da pandemia.

 

O problema não é comer, obviamente, mas sim a qualidade e a forma com a qual nos alimentamos. Por isso, se você está com vontade de comer algo que nem sabe o que é, pare, tente fazer algo que lhe seja prazeroso em casa. Se a vontade estiver atrelada a fome mesmo, prefira cozinhar, mas evite pedir. O cozinhar, inclusive, pode até ser terapêutico. Além de fazer, você vai comer algo mais saudável, caseiro, natural, cuja procedência é conhecida.

Quero aproveitar este texto também e fazer outro importante alerta para este período de quarentena, cujo término ainda é incerto: o aumento do consumo de álcool entre os brasileiros. Segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), houve um crescimento de 38% na venda de bebidas alcoólicas nas distribuidoras e 27% nas lojas de conveniência do país desde que o isolamento social começou.

 

A explicação pela busca das bebidas também se assemelha ao desejo pelos alimentos calóricos. O álcool entorpece, nos tira, mesmo que forma paliativa, desta realidade insana que estamos vivendo. Esse entorpecimento faz com que as pessoas suportem esse momento.

 

Porém, não é segredo dizer que o aumento deste tipo de consumo pode provocar uma série de danos à saúde: diversos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, no fígado, queda da imunidade, desidratação. Isso sem falar que o álcool não é alimento, mas sim droga, sem prescrição médica.

 

Se você faz questão de beber, é importante saber que não existe dose segura. Algumas medidas, porém, podem minimizar os danos deste hábito: alimente-se antes, não esqueça de beber água e, principalmente, evite consumir álcool todos os dias da semana. O ideal, porém, é tentar buscar outras atividades que não apenas comer e beber desenfreadamente. Vale a pena, por exemplo, descobrir coisas simples do dia a dia, capazes de nos deixarem mais alegres. Uma hidratação mais intensa nos cabelos na hora do banho, uma série leve na TV, um livro que seja agradável, brincar com os filhos.

 

Quando a fome é emocional, fome de solidão, de saudade, é fundamental buscarmos outras válvulas de escape e compreendermos que este período, felizmente, vai passar.

 

                                      Gisele Magalhães – nutricionista clínica