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BH é a 6ª capital com maior consumo abusivo de álcool no país
Pesquisa inédita realizada entre 2010/23 pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) revela que Belo Horizonte é a sexta capital do país com maior índice de consumo abusivo de bebidas alcoólicas. No primeiro ano do estudo, a capital mineira apresentou uma prevalência de 20,9% na população geral adulta. Em 2023, considerando os 30 dias anteriores à pesquisa, BH registrou 22,4%, ficando atrás apenas de Salvador (28,9%), Distrito Federal (25,8%), Cuiabá (24,5%), Florianópolis (23,4%) e Vitória (23,2%).
O cenário apontado no estudo do CISA é preocupante, principalmente porque quanto maior o consumo de álcool, maior será o risco do desenvolvimento de cânceres. Os tumores mais relacionados [ao consumo de álcool] são os chamados cânceres de cabeça e pescoço, que compreendem cavidade oral, faringe, laringe, língua, entre outras partes da região, além do câncer de esôfago, estômago, fígado, pâncreas, intestino grosso e reto e o câncer de mama em mulheres. Neste último, o álcool é um dos fatores de risco pois o consumo aumenta os níveis do hormônio sexual feminino, o estrogênio, que é associado à neoplasia.
O principal metabólico do álcool que pode causar câncer é o acetaldeído, substância cancerígena que danifica o DNA das células e promove o desenvolvimento de tumores. Além disso, à longo prazo, o álcool provoca um processo inflamatório crônico que aumenta a probabilidade de mutações celulares, que por sua vez contribuem para o surgimento de células anormais. O risco é potencialmente ampliado quando o álcool é associado ao tabaco. Dados na literatura apontam que até mesmo no consumo moderado o risco de desenvolver um câncer é estatisticamente superior a pessoas abstêmias.
Quanto às informações comumente disseminadas de que o vinho tinto, consumido moderadamente – uma a duas taças diárias – pode ser benéfico à saúde, é preciso haver cautela: a bebida realmente tem uma substância, o resveratrol, cuja ação antioxidante combate os radicais livres, podendo reduzir o risco de câncer de intestino. Entretanto, apesar de apresentar benefícios, não podemos ignorar que o álcool presente no vinho é um carcinógeno comprovado. Por isso o recomendado é obter o resveratrol por meio de fontes não alcoólicas, através, por exemplo, do suco de uva integral, das frutas vermelhas, amendoim, cacau e chocolate amargo.
Por fim, lamento o fato de as campanhas publicitárias atuais não serem enfáticas quanto aos reais prejuízos do consumo de bebidas à base de álcool. Houve uma queda do consumo de cigarro no Brasil, nas últimas décadas, principalmente porque hoje as propagandas fazem questão de enfatizar as doenças a ele associadas, o que infelizmente não se aplica em relação ao álcool. Se pararmos para observar, todos as festas e eventos são regados a bebidas alcoólicas. Isso sem falar que é um produto intimamente associado à nossa cultura e hábitos sociais. Não basta, portanto, apenas recomendar o uso moderado, afinal o uso moderado – vale repetir e reforçar - também aumenta a incidência do câncer. O ideal é evitar ao máximo o uso do álcool e, se possível, aboli-lo.
Alexandre Chiari, Oncologista