Médico doa os próprios cabelos para paciente em tratamento contra leucemia grave

Não é segredo dizer que para a grande maioria dos pacientes oncológicos, o médico é figura essencial no tratamento, afinal – respaldado na ciência – é este profissional que tomará as decisões mais certeiras no caminho para a cura da enfermidade. Há histórias, porém, que para além do amparo clínico, o profissional da saúde também traz um conforto humano, por meio de gestos que enchem o coração de quem recebe o acolhimento. É o caso do hematologista Edson Carvalho, que doou os próprios cabelos para a assistente de segurança do trabalho, Rosiane Mara Evangelista, na luta contra uma leucemia grave.

Edson conta que sua paciente é um milagre, literalmente uma sobrevivente: em tratamento contra a doença há um ano, ela chegou a ter poucas chances de vida após enfrentar uma sepse durante um dos ciclos de quimioterapia mais intensiva. A infecção generalizada em tecidos e órgãos levou Evangelista para o CTI, com necessidade de ventilação mecânica e hemodiálise. “Dos pacientes que eu me lembro com esse quadro de gravidade, infelizmente nenhum resistiu. Ela é uma exceção”.

Ainda segundo o hematologista, que atende Rosiane na Cetus Oncologia – clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem – durante a internação no CTI, foi necessária a suspensão da quimioterapia, o que tornou o quadro ainda mais difícil. Porém, milagrosamente ela sobreviveu. “Voltamos com uma dose mais moderada dos remédios, que era o que ela tolerava. Por incrível que pareça, Rosiane foi respondendo positivamente, até ficar minimamente restabelecida e se tornar elegível a um transplante de medula, que é a chance de ficar curada ou viver o maior tempo possível sem a leucemia”.

Enquanto era um suporte médico para o tratamento de Rosiane, na vida pessoal Edson enfrentava sérios percalços: o pai estava esteve internado por 60 dias em estado grave com um quadro de tuberculose. O hematologista decidiu, então, que se ele saísse da situação, cortaria os cabelos. “Sempre tive cabelos longos e além de ser apegados a eles, não os cortava desde os 18” - atualmente, Edson tem 34 anos -. O pai de Carvalho, felizmente, deixou o hospital há poucas semanas e como promessa estabelecida tem que ser cumprida, ele fez questão de se livrar das longas madeixas e, ao cortá-las, resolveu fazer uma doação. “A primeira pessoa em que pensei foi na própria Rosiane, até mesmo para dar forças para que ela consiga prosseguir nesse processo de transplante e pós-transplante, etapas bastante difíceis”, conta acrescentando que convocou a filha para doar seus cabelos junto aos dele. “Antes de sermos médicos, somos pessoas. E quando a gente vê outra pessoa em sofrimento, é impossível não se colocar no lugar, ter empatia, e tentar sentir minimamente suas dores para ajudar da melhor forma possível.”

Para Rosiane, o gesto de Edson não apenas a comoveu como a encheu de forças para continuar lutando pela cura. “No dia que ele doou os cabelos, me chamou no consultório dizendo que tinha que conversar comigo. Fui preocupada, achando que era algo grave sobre a doença. Ao chegar na clínica, ele me surpreendeu com um saquinho com as mechas, dele e a da filha. Além do cuidado como profissional, que já é exemplar, esse gesto também evidencia o cuidado humano, ainda mais precioso”.

A assistente de segurança do trabalho vai passar, em breve, pelo transplante de medula, e, em seguida, começa um novo ciclo de quimioterapia e radioterapia. Já preparada para a queda dos cabelos, ela guardou as mechas recebidas para solicitar a confecção de uma lace, e tal como uma fênix que renasceu da Cinzas, está convicta de que a cura vai chegar. E quando ela chegar, já tem endereço certo para comemorar a vida ao lado da pequena Milena, sua filha de quatro anos: a praia. “Quero salgar os pés para adoçar a alma”.