Pela primeira vez, desde 2007, Brasil registra aumento no número de fumantes

Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, um alerta chama atenção: depois de 18 anos em queda, o número de adultos fumantes no Brasil cresceu 25% entre 2023 e 2024. Divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde, os dados também apontam aumento no número de usuários de cigarros eletrônicos. No último ano, 2,6% dos adultos das capitais usavam o dispositivo diariamente ou ocasionalmente. Em 2023, esse percentual era de 2,1%.

O cenário é preocupante e escancara ainda mais a necessidade de ações de conscientização popular quanto aos riscos do tabagismo. No Brasil, mais de 174 mil pessoas morrem a cada ano por doenças causadas pelo tabaco, sendo 55 mil por câncer. Já no mundo, são oito milhões de mortes anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Entre os cânceres mais associados ao tabaco, está o de pulmão, o segundo mais comum, após o de mama, e o que mais mata, tanto homens quanto mulheres, especialmente quando diagnosticado tardiamente. Ele se desenvolve a partir de mutações genéticas adquiridas nas células do epitélio brônquico, geralmente por agentes carcinógenos, entre eles o tabaco. Mas engana-se quem pensa que a doença se instala de forma imediata. A exposição crônica às substâncias do cigarro, por anos, causa lesões pré-malignas nas estruturas pulmonares, seguidas de mutações acumuladas com proliferação descontrolada. Esse cenário contribui para a formação de um tumor invasivo que pode se disseminar para outros órgãos, em um processo conhecido como metástase. O tipo mais comum da neoplasia é o adenocarcinoma, seguido pelo carcinoma escamoso e o carcinoma de pequenas células (mais agressivo).

A boa notícia, é que os tratamentos têm avançado bastante nos últimos 10 anos. Deles fazem parte desde as cirurgias em estágios iniciais, às terapia-alvo e imunoterapia. As chances de cura são altas – entre 70 e 80% - se o diagnóstico for precoce. Para casos mais avançados, o prognóstico é reservado, contudo as terapias-alvo e imunoterapia prolongam a sobrevida do paciente e melhoram a qualidade de vida.

Para aumentar as chances de um diagnóstico com a doença ainda em fase inicial, recomenda-se o rastreamento com tomografia de baixa dose, como prevenção secundária. O exame é indicado para pessoas entre 50 e 80 anos, especialmente as que fumam a partir de 20 maços de cigarro por ano ou pararam de fumar nos últimos 15 anos.

Melhor opção é parar de fumar

Porém, a melhor opção é sempre parar de fumar. Quem deseja interromper o vício, mas não consegue fazer isso de forma autônoma, deve procurar a unidade de saúde mais próxima de casa ou do trabalho. O tratamento consiste em encontros individuais ou em grupo com médico e equipe. Durante esse caminho, será avaliado o grau de dependência do paciente em relação ao cigarro e a partir daí a necessidade de um plano terapêutico individual, de modo cognitivo-comportamental e medicamentoso, se necessário.

O mais importante, é que independentemente do tempo de vício/consumo, cessar o tabagismo trará benefícios indiscutíveis para o funcionamento pulmonar. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, basta que o organismo fique 20 minutos sem tabaco para que a pressão sanguínea e a pulsação voltem ao normal. Após duas horas, já não haverá mais nicotina circulando no sangue e passadas 12 a 24h, os pulmões já funcionam melhor. A partir de um ano sem cigarro, o risco de desenvolver doença coronariana cai pela metade em relação a um fumante e já em 10 anos, as chances de diagnóstico de câncer de pulmão também caem 50%.

Daiana Ferraz – Oncologista da Cetus Oncologia