Mortes por câncer de próstata podem crescer 85% nas próximas duas décadas

Os casos de câncer de próstata devem dobrar de 1,4 milhão por ano, em 2020, para 2,9 milhões por ano até 2040, principalmente nos países de baixa e média renda. A previsão é de um estudo realizado pela The Lancet Commission.

O número de mortes por ano causadas pelo tumor também deve aumentar em 85%, passando de 375 mil, em 2020, para quase 700 mil até 2040, de acordo com a análise.

Diferentemente do câncer de mama, com ocorrências, cada vez mais, em mulheres abaixo dos 50 anos de idade, o de próstata continua sendo muito prevalente no homem sexagenário. A idade, por sinal, é o principal fator de risco. Quanto mais velho, maior a chance do diagnóstico.

Geralmente, no estágio inicial, a doença é silenciosa e sem sintomas. Às vezes o paciente pode ter o que chamamos de Disúria e Polaciúria. A primeira é caracterizada por dor, queimação, ardência ou desconforto ao urinar ou após o ato de urinar. Já a segunda refere-se ao aumento da frequência das micções, ou seja, micções com intervalos menores. A noctúria, necessidade de urinar várias vezes durante a noite, também pode ser um sinal de alerta.

Em fases mais avançadas, emagrecimento repentino e dor óssea, indicando metástase – a disseminação da doença para outros órgãos - chamam atenção. O câncer de próstata, por sinal, é uma doença com predileção para se espalhar, principalmente, para as células do osso e linfonodos dentro da cavidade abdominal.

Para evitar a descoberta em fase tardia, o que dificulta as chances de cura, é fundamental a adesão do homem ao exame urológico anual a partir dos 50 anos de idade, conhecido como toque retal. Durante o método, o médico insere um dedo no ânus do paciente, utilizando luva e lubrificante, e analisa a região por cerca de 10 segundos. 

A textura da próstata, normalmente, é fibroelástica. Isso significa que áreas endurecidas apalpadas durante o exame podem sinalizar para a presença de doença neoplásica. Diante dessa suspeita o urologista solicita uma ultrassonografia transretal, seguida de biópsia para confirmar o diagnóstico. Pacientes considerados de alto risco, com pais ou irmãos com histórico da doença, além de afrodescendentes, devem iniciar a prevenção a partir dos 45 anos.

Outro método de prevenção é o exame de PSA, teste feito a partir da coleta de amostra de sangue do paciente para medir a quantidade de uma proteína, o Antígeno Prostático Específico (PSA), produzida pelas células epiteliais da próstata. O valor de referência do PSA fica em torno de 2,5 nanogramas (ng) por mililitro (ml) de sangue. Ele pode estar um pouco aumentado em pacientes a partir dos 60 anos, o que é normal e não necessariamente significar doença.

Existe, aliás, uma enfermidade muito mais frequente na próstata, com sintomas semelhantes ao do câncer, que é a hiperplasia prostática benigna, aumento da glândula. O mais importante é não se basear apenas em um exame isolado, mas no histórico de sucessivas avaliações anuais e como ele vem crescendo.

 

Tratamentos para doença avançada melhoraram nos últimos 10 anos

Os tratamentos para câncer de próstata vêm apresentando melhorias significativas, especialmente nos casos de doenças metastáticas. Quando eu comecei a fazer oncologia, na década de 90, tínhamos pouquíssimos recursos para um paciente com quadro avançado. Hoje, felizmente, existe um arsenal terapêutico extremamente validado e assertivo, o que aumenta exponencialmente a sobrevida. Terapias com antiandrogênicos mais potentes estão entre os medicamentos que, estão colaborando para o controle da enfermidade. Eles, porém, não são curativos, mas paliativos.

O ideal é fazer o diagnóstico da doença quando ela ainda é local, ou seja, está concentrada somente na próstata. Os benefícios ao fazer o toque retal e todos os exames necessários e recomendados são infinitamente maiores e melhores. Quem ainda deixa de se prevenir por pura ignorância e preconceito, compromete a saúde e a vida.

 

Dr. Alexandre Chiari - Oncologista