É preciso quebrar o preconceito

A verdade é que o toque no reto sequer é indicado na maioria dos atendimentos. Ele se torna frequente apenas nas situações em que o homem tem um risco aumentado da enfermidade devido, por exemplo, à histórico familiar da doença ou se pertence à raça negra, entre outros. Muitos morrem de câncer de próstata pelo simples temor de serem invadidos em uma das partes mais íntimas do corpo. Quando descobrem o tumor, infelizmente ele já está em fase metastática. Nesses casos só enfrentam a situação pelo viés da dor e do sofrimento. É preciso quebrar esse ciclo de informação distorcida originado, principalmente, pelo fato de vivermos em uma sociedade extremamente machista.

 

O melhor método para investigar neoplasias na próstata é mais simples do que muitos imaginam, por meio de um exame de sangue corriqueiro, feito em laboratório. Ele mede a dosagem de PSA, antígeno prostático específico, proteína produzida pelas células prostáticas que, em número elevado, acima de 6 nanogramas por mililitro de sangue, podem ser um alerta de que o homem tem grandes chances de ter ou já estar com um tumor na glândula. Esse resultado, no entanto, não determina necessariamente a presença de câncer na próstata, pois, na maioria das vezes, os casos estão relacionados à inflamação, hiperplasia prostática benigna (crescimento da próstata), entre outras anormalidades.

 

Caso o PSA esteja elevado, aí sim será recomendado ao paciente o exame de toque retal e só depois, para tirar a prova dos 9, uma biópsia da próstata, que por meio da retirada de amostras do tecido da glândula para análise, feita com o auxílio da ultrassonografia, irá confirmar ou não um possível tumor.

 

Vale lembrar também que um PSA baixo não isenta o risco da doença, Estima-se, por exemplo, que um paciente com a dosagem menor que 1 ng/ml tenha chances aproximadas para detectar um câncer de próstata de 3,37 em 10 anos de seguimento, enquanto que um homem com PSA entre 3-10 ng/ml tenha um risco de 38,96 em igual período. Portanto, o segundo deve ser visto com maior frequência, com avaliação urológica anual, e o primeiro deve ser avaliado a cada cinco anos, caso não tenha nenhum fator de risco.

 

Quanto à idade para começar o rastreamento, deixo a seguinte recomendação: se você teve, por exemplo, um parente de primeiro grau com câncer de próstata aos 40 anos ou é negro, o ideal é que comece a fazer seus exames aos 35. Se por outro lado não tem fator de risco, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é que essa avaliação entre em sua rotina de check-up, de forma individualizada, a partir de 50 anos.

 

Quando detectado precocemente, o câncer de próstata tem mais de 90% de chances de cura. Além disso as temidas consequências do tratamento, entre elas impotência sexual e incontinência urinária, vêm ocorrendo cada vez menos devido à modernização das técnicas terapêuticas. Na radioterapia, por exemplo, temos intervenções bem precisas que não comprometem a região, além da cirurgia robótica.  O câncer de próstata, por sinal, é o carro chefe da cirurgia robótica. O robô consegue identificar quaisquer nervos com facilidade sem lesá-los.

 

Mas para que esse diagnóstico seja precoce, esteja estar atento à sua saúde, em todos os aspectos, e incorpore hábitos preventivos. Culturalmente os homens não vão ao médico e nem estão ligados nesse assunto quanto as mulheres. Vários têm o hábito de postergar dores e sintomas. Prova disso é que de acordo com uma pesquisa do Centro de Referência em Saúde do Homem, 70% vão a consultas acompanhados das esposas ou dos filhos e mais de 50% já chegam aos consultórios com doenças em estágio avançado, quando muitas vezes é preciso fazer intervenções cirúrgicas. É mais que necessário mudar essa chave.

 

Fique atento aos sinais e sintomas do câncer de próstata

 

Em sua fase inicial, o câncer de próstata tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da glândula: dificuldade de urinar e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. Na fase avançada a doença pode causar dor óssea, sintomas urinários, infecção generalizada ou insuficiência renal.

 

                                Victor Hugo Lisboa Lopes, oncologista clínico