Síndrome pós-Covid: precisamos falar sobre o assunto

Apesar de meu universo de atuação na medicina ser a oncologia, me senti na obrigação de falar com vocês sobre um assunto muito importante, atual e necessário: a síndrome pós-Covid, que pode afetar muitas das mais de 18 milhões de pessoas curadas da doença até o momento. Estudos apontam que até 80% dos que se recuperaram do vírus respiratório sentem ao menos um sintoma até quatro meses depois do fim da infecção.

 

Casos graves, que exigiram internação e UTI, tendem a abalar mais o organismo a longo prazo. Isso não significa, porém, que os episódios leves não deixem marcas prolongadas, afinal para se livrar do coronavírus, o sistema imunológico desencadeia um processo inflamatório, que se torna exacerbado demais em uma parcela de pessoas. São as vítimas da chamada ‘tempestade inflamatória’, fenômeno que envolve a liberação de substâncias, como citocinas, com potencial para lesionar órgãos e tecidos.

 

Nos pulmões, por exemplo, onde a batalha contra o Sars-CoV-2 é mais intensa, a Covid-19 pode provocar fibroses (uma espécie de cicatriz) que atrapalham a respiração.  As citocinas também atacam os músculos, gerando dores e sensação de fraqueza. O próprio sistema nervoso, que comanda o tecido muscular, pode ser afetado pela inflamação ou pelo próprio vírus, o que só agrava a situação.

 

As intercorrências não param por aí: uma revisão divulgada em janeiro por pesquisadores norte-americanos, ainda em análise por outros cientistas, lista 50 queixas das mais variadas no pós-Covid. Na mesma linha, uma revisão de literatura publicada pela conceituada revista científica britânica Nature, dá a dimensão do problema em oito âmbitos, da pele ao cérebro.

 

Fadiga, falta de ar, dores de cabeça, dores musculares, queda de cabelo, perda de paladar e olfato (temporária ou duradoura), dor no peito, tontura, tromboses, palpitações, depressão e ansiedade, além de dificuldades de raciocínio, linguagem e memória são as principais manifestações relatados por inúmeros pacientes.

 

A fadiga e a dificuldade de fazer movimentos simples, como escovar dentes ou beber água, são alguns dos problemas mais comuns nos estudos.

 

Mal-estar e queixas como dores de cabeça e perda de olfato tendem a se resolver sozinhos. Agora, se o seu incômodo é intenso, o melhor a fazer é procurar atendimento médico pois é possível conter os danos e intervir antes que o pior aconteça.

 

Uma dica importante: Programas de reabilitação cardiovascular são os mais adequados para atender os sobreviventes da Covid-19, pois treinam os músculos ao mesmo tempo em que renovam a capacidade respiratória.

 

O fundamental é você entender que não é normal não ficar bem. Cientistas ainda estão verificando se certas sequelas podem ser permanentes, porém a maior parte dos quadros têm se resolvido. Agir rápido e receber a assistência correta faz a diferença.

 

                                              Bráulio Nunes – Oncologista clínico