Check-up mental: mais que necessário

Hoje, Dia Nacional da Saúde, as discussões quase sempre se concentram sobre assuntos que remetem à situação de desvalorização do SUS pelas instâncias de poder público em nosso país e à importância da medicina preventiva. Os temas são, de fato, relevantes. Mas quero propor para a data outra reflexão igualmente necessária: o valor da saúde mental em nossa sociedade.

 

Estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), publicado em agosto de 2020, no jornal The Lancet, indicou aumento de 90% nos casos de depressão no Brasil, durante a pandemia. A análise revelou, ainda, que o número de pessoas com crise de ansiedade e estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020, no início da crise sanitária. A Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), considera, inclusive, os desdobramentos mentais da Covid-19 como a quarta onda da doença. E o cenário é preocupante para o nosso país, que já é líder mundial em casos de ansiedade.

 

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) não é apenas o contágio, o medo da infecção e a iminência da morte pelo coronavírus que têm afetado a saúde mental das pessoas. O estresse causado pelas desigualdades socioeconômicas, o desemprego, além dos efeitos da quarentena, do confinamento, do fechamento de escolas e dos locais de trabalho geraram consequências enormes, segundo o diretor da agência na Europa, Hans Kluge. Consequências essas cujos impactos poderão ser sentidos à longo prazo.

 

Diante do exposto acima não restam dúvidas de que o bem estar mental deve ser cada vez mais tema de conversas e debates francos e lúcidos, afinal estamos falando de um componente-chave da nossa saúde, que requer ação dos governos neste presente caótico que vivemos.

A própria OMS recomenda que os países fortaleçam os serviços de saúde mental, garantindo a melhora do acesso à atenção por meio de tecnologia digital, aumento dos serviços de apoio psicológico em escolas, universidades e locais de trabalho e também para pessoas que trabalham na linha de frente contra a Covid-19.

 

O check-up mental deveria, por sinal, ser incluído em nossas rotinas de avaliações periódicas, o que exige, obviamente, investimento em saúde pública, com, por exemplo, aumento de profissionais e a oferta de tratamentos, já que os acompanhamentos terapêuticos e psiquiátricos ainda são muito caros, distantes da realidade da maioria da população.

 

É preciso oferecer, até mesmo, a possibilidade de a pessoa conversar com o médico não só presencialmente como também virtualmente. É importante esse incentivo à telemedicina, pois pode evitar que muitos abandonem as terapias.

 

Cuidar da mente nunca foi tão necessário quanto hoje. Pense nisso e não deixe de buscar auxílio, mesmo que aparentemente esteja tudo bem. Lembre-se que algumas feridas que carregamos, às vezes, são imperceptíveis.

 

Ah, e não se esqueça: Conversar com um terapeuta, psiquiatra ou psicólogo não significa que você tem um desequilíbrio mental. Somos vulneráveis e frágeis, portanto devemos nos apoiar, sempre que possível, em quem pode nos ajudar a enfrentar os dissabores da vida.

 

Lorena Paixão – psicóloga e Supervisora de Gestão de Pessoas