Atrasos no tratamento do câncer aumentam em até 13% risco de mortalidade

Pesquisa recente publicada pelo The British Medical Journal, publicação periódica do Reino Unido, revela que a paralisação de um tratamento de câncer aumenta de 6% à 13% as chances de mortalidade do paciente. No Brasil, esse dado é preocupante, já que de acordo com um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, 74% dos médicos especialistas da área tiveram pacientes com as terapias adiadas ou paralisadas em mais de um mês durante o primeiro semestre de 2020, período que coincidiu com a chegada da Covid-19 no país.

É difícil determinar um motivo específico para os atrasos existentes, infelizmente existem vários que poderiam ser apontados. Um deles é o fato de que a maioria da população brasileira depende do SUS para o diagnóstico e tratamento de neoplasias, o que acaba dificultando o acesso em tempo hábil para tratar a doença precocemente.

Após um período sem o tratamento adequado, alguns cuidados devem ser tomados, tanto pelo paciente quanto pelo corpo médico que o atende. Existem certos riscos, e, nesse sentido, é de extrema importância uma avaliação correta e minuciosa da situação em que se encontra o enfermo.

Vale lembrar, porém, que a retomada do tratamento passará necessariamente por uma avaliação criteriosa para entender se o câncer encontra-se no mesmo estágio inicial observado no diagnóstico. Só assim será possível nortear o rumo das terapias, afinal é preciso saber se elas ainda surtirão o efeito esperado. Cada caso deve ser avaliado individualmente.

Queda nos exames de detecção

Outro dado que chama atenção e quero destacar neste Dia Internacional de Luta Contra o Câncer, é do Instituto Oncoguia. De acordo com a entidade, os exames utilizados para a detecção precoce do câncer tiveram enorme queda em 2020. As biópsias, por exemplo, caíram pela metade de março a setembro. No SUS (Sistema Único de Saúde), o número de pacientes oncológicos que iniciaram o tratamento diminuiu cerca de 30% em relação ao mesmo período de 2019. O retardo no diagnóstico aconteceu, principalmente, devido ao temor da população em sair de casa e se contaminar pela Covid, principalmente no início da pandemia, quando ainda pouco se sabia sobre o vírus.

Além da queda dos exames de detecção, outras situações relacionadas ao câncer surgiram no contexto de pandemia, como a paralisação de procedimentos cirúrgicos. Uma exceção digna de nota foi o aumento do diagnóstico do câncer de pulmão atribuído a realização de tomografias voltadas para rastreamento da Covid e que acabaram revelando lesões pulmonares neoplásicas.

Por isso, no dia de hoje, é relevante ressaltar a importância do diagnóstico precoce e também do tratamento correto e sem paralisações. Uma vez diagnosticado, seguir todas as etapas necessárias para tratar é o padrão que poderá impactar na cura, quando possível e, no alívio de sintomas quando este for o objetivo. Todas as unidades de saúde que tratam de câncer estão devidamente organizadas para oferecer seus tratamentos sem aumentar o risco de infecção pelo coronavírus, mesmo para aqueles que possuem alguma comorbidade.



Charles Pádua, Oncologista Clínico.