Jovens brasileiros estão entre os menos otimistas com o futuro, segundo pesquisa do Unicef

Com a proximidade do fim de ano, é muito comum que as pessoas reflitam sobre a vida e tracem expectativas para o futuro. Porém, depois de quase dois anos com tantas incertezas, crises e perdas por conta da Covid-19, o ‘amanhã’ parece não ser tão auspicioso, pelo menos para os jovens do nosso país. Isso porque segundo uma pesquisa recente divulgada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), feita em 21 países, apenas 31% dos brasileiros na faixa etária entre 15 e 24 anos acreditam que o mundo está melhorando. No ranking geral o Brasil ficou em penúltimo lugar, à frente apenas do Mali, na África Ocidental. 

O levantamento foi feito entre em fevereiro e junho deste ano com 21 mil pessoas, divididas em dois grupos: um com idade entre 15 a 24 anos e outro acima dos 40 anos. Quando analisados os participantes mais velhos, o pessimismo é ainda mais presente, já que somente 19% dos entrevistados creem na melhora do planeta. Na comparação com os dados mundiais, os números daqui são bem mais baixos, pois 57% dos adolescentes e jovens acreditam que as novas gerações viverão em um lugar melhor ao passo que 39% dos adultos também pensam dessa forma.

O pessimismo dos jovens brasileiros quanto ao futuro do mundo reflete mudança de paradigma de que a felicidade obrigatória, quase alienada, em datas como o Natal e o Ano Novo, já não cabem mais diante dos fatos que nos cercam. Passamos e ainda estamos enfrentando uma pandemia que já matou mais de cinco milhões de pessoas no mundo, seiscentas mil delas só no Brasil. Por isso, só desejar Feliz Natal ou Ano Novo neste fim de ano não basta. É preciso pensarmos e refletirmos no que fazer para que o ano novo e o futuro sejam, realmente, felizes.

Porém, quero deixar uma boa ressalva: esse pessimismo revelado na pesquisa não significa necessariamente uma má notícia, pelo contrário: pode ser interpretado como o início da construção de uma sociedade mais crítica, que não maquia a realidade, mas sim tenta buscar formas de modificá-la e até mesmo reconstruí-la.

Prova disso é que outro dado analisado pelo levantamento do Unicef, mostra que o Brasil ficou em segundo no ranking dos que mais acreditam no poder da educação para a transformação social. Mais da metade dos adolescentes e jovens brasileiros (59%) e dois terços dos adultos (74%) entrevistados citam a educação como o principal fator para o sucesso. A média dos demais países foi 36% entre os mais novos e 34% entre os adultos. Isso constata que já não nos contentamos mais em cruzar os braços e esperar que os problemas nos sucumbam. Acreditamos que as coisas não estão legais? Sim, acreditamos. Mas cremos, principalmente, que é possível mudar por meio do conhecimento, do estudo, do acesso à informação. E isso é, sobretudo, fantástico, quando paramos para pensar no passado de subserviência e servidão que marcou a história do nosso país.

 

Mudanças climáticas e crença na ciência

A pesquisa do Unicef também revela que adolescentes e jovens se mostraram mais engajados nos problemas atuais. Nos 21 países, quase três quartos deles sabem das mudanças climáticas e acreditam que os governos devem tomar medidas significativas para enfrentá-las. A proporção é ainda maior em países de renda baixa e média baixa (82%), onde o impacto dessas alterações costuma ser maior. No Brasil, são 73%.

Os resultados indicaram ainda que adolescentes e jovens confiam mais do que os adultos nos cientistas (56% ante 50%) e na mídia internacional (36% ante 30%) como fontes de informação segura.

Não há dúvidas, diante de todos esses últimos números, de que estamos sim diante de uma geração mais antenada e com uma mentalidade muito mais global. São essas pessoas, com esses perfis, que vamos precisar na busca por um futuro mais justo e igualitário para todos. É o que me alenta e o que me faz crer que os anos novos que estão por vir serão, de fato, mais felizes.

 

Adriane Pedrosa - Psicóloga