Câncer de testículo: seis a cada 10 mortes ocorrem em pacientes abaixo dos 40 anos

O calendário oncológico reserva este mês para conscientizar a população sobre uma doença considerada rara, que afeta menos de 1% dos homens e corresponde a 5% dos casos de tumores urológicos no sexo masculino: o câncer de testículo.

Entretanto, apesar da baixa incidência, a neoplasia tem matado muitos pacientes abaixo dos 40 anos de idade. Dados exclusivos do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da saúde obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia, mostram que mais de 60% das mortes pela doença acometem jovens adultos entre 20 e 39 anos, ou seja, em idade produtiva.

Ainda de acordo com o levantamento, entre 2010 e 2020, dos quase quatro mil homens que morreram em decorrência do câncer de testículo, apenas 816 tinham mais de 50 anos — faixa etária de maior prevalência dos tumores urológicos.

Este cenário se deve, principalmente, ao fato de que a doença afeta pacientes dos 15 aos 50 anos, o que representa um cenário lastimável, justamente porque o tumor pode ser facilmente diagnosticado em fase precoce. Se os homens conhecessem mais o corpo, o índice de mortalidade poderia ser menor. Ao contrário do ovário da mulher, glândula que fica oculta, o testículo é um órgão externo e totalmente palpável.

Outro fator capaz de aumentar a percepção da doença em estágios iniciais, é que ela provoca o crescimento nítido do saco escrotal, bolsa de pele que se localiza abaixo do pênis, na qual se encontram os testículos. Esse aumento pode ser acompanhado de dor em algumas situações e se confundir com uma inflamação, tanto dos testículos quanto dos epidídimos, tubos localizados na região genital masculina, sendo responsáveis pelo transporte dos espermatozoides. Na dúvida sobre o que pode ser, é primordial procurar um urologista para fazer exames complementares.

Durante o processo de investigação, é importante, em um primeiro momento, fazer uma avaliação física do saco escrotal por meio de uma ultrassonografia, que irá determinar a natureza da lesão.

A boa notícia é que a enfermidade é extremamente curável, atingindo índices de cura de 90 a 95%, se achada na fase localizada dentro do testículo, sem que desenvolva metástase. Nessa etapa, o recomendado é fazer a retirada do testículo por orquiectomia. Após ser retirado, o tumor é encaminhado para análise e, a partir daí, confirmando-se, de fato, há doença localizada, o médico saberá indicar se existe a necessidade de tratamento complementar, o que inclui quimioterapia ou radioterapia, sendo a primeira mais comum. Nos casos de diagnóstico tardio, a doença, infelizmente, tende a se espalhar para outras partes do corpo, como pulmão e até mesmo o cérebro.

Para evitar esse quadro, deve se fazer a prevenção primária através do autoexame, que pode ser feito, preferencialmente, durante o banho, em pé, com água morna, o que faz a bolsa escrotal relaxar. Fazer a apalpação dos testículos em frente ao espelho, como a mulher faz em relação às mamas, também é um método assertivo.

O adolescente, ou homem jovem, deve apalpar os testículos, comparando um lado e outro e verificando se há diferenças, sobretudo algum nódulo endurecido, se existe alteração de tamanho entre eles, dor no abdômen, na virilha ou no escroto. A partir da adolescência, já se pode ensinar o jovem, junto com questões de higiene, a verificar a sensibilidade porque, conhecendo esse órgão, fica mais fácil perceber se há alguma mudança, que pode ser de volume, altura, ou dor que a pessoa não tinha.

Os pais devem criar o hábito de levarem seus filhos adolescentes ao urologista, ao invés de só iniciarem o acompanhamento aos 45-50 anos, idade recomendada para a prevenção do câncer de próstata. Da mesma forma que orientamos as mulheres durante o Outubro Rosa e as meninas jovens a irem ao ginecologista com regularidade, é extremamente importante que os homens também se conscientizem quanto à prevenção precoce. Infelizmente muitos ainda são resistentes na busca pelas unidades de saúde, bem como em aderir uma rotina de exames periódicos, mas é fundamental romper os estigmas.

 

Charles Pádua, Oncologista