Brasil terá mais de 2 milhões de novos casos de cânceres até 2025, segundo Inca

O Brasil deve registrar 704 mil casos novos de câncer para cada ano entre 2023 e 2025, aumento de quase 13% em relação às estimativas do triênio anterior (2020-2022), que apontavam 625 mil novas ocorrências a cada ano. Somando o número total de casos anuais, nos períodos que estão por vir, a estimativa é de mais de 2 milhões de novas confirmações da doença. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e foram divulgados no último dia 23 no documento "Estimativa 2023 - Incidência de Câncer no Brasil".

Ao todo foram estimadas, neste novo estudo, as ocorrências para 21 tipos de câncer mais incidentes no país. O tumor maligno mais comum no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).

Em menores índices, mas também importantes para a criação e manutenção de políticas públicas de diagnóstico e tratamento precoce, estão listados no documento o câncer da glândula tireoide, câncer da cavidade oral, linfoma não Hodgkin (LNH), leucemias, câncer do sistema nervoso central, de bexiga, de esôfago, de pele melanoma, do corpo de útero e ovário, de laringe, linfoma de Hodgkin — e duas novas adições à lista em relação ao último triênio, o câncer de pâncreas e câncer de fígado. Este último, inclusive, aparece entre os 10 mais incidentes na região Norte do Brasil, estando relacionado a infecções hepáticas e doenças hepáticas crônicas.

Acredito que o crescimento dos casos de cânceres até 2025 está relacionado ao estilo de vida pouco saudável de grande parte dos brasileiros, que se revistos, podem auxiliar na diminuição das incidências. Estudos científicos comprovam, inclusive, que cerca de 60% dos casos de câncer estão relacionados com tabagismo, consumo de alimentos processados, alcoolismo e sedentarismo. Felizmente são problemas que podem ser contornados com mudanças de postura do indivíduo, mas também com um trabalho forte na área da saúde pública capaz de promover medidas preventivas, fazer diagnósticos precoces e melhorar o acesso à saúde, já que existe uma variabilidade enorme no tempo em que se descobre o câncer até o início do tratamento a depender de onde o paciente será tratado.

Vale destacar ainda que não somente os maus hábitos são responsáveis pelos números atuais do INCA, como também os avanços da medicina em relação aos diagnósticos. Houve uma melhoria nos métodos capazes de diagnosticar neoplasias, o que provoca um aumento das detecções. Antes demorávamos mais para chegar aos diagnósticos.

Estimativas do Brasil em relação ao restante do mundo

Os especialistas apontam que as previsões para os novos casos de câncer no Brasil estão dentro do esperado em relação ao que se observa no restante do mundo. Enquanto tumores relacionados ao estilo de vida pouco saudável estão mais presentes nas regiões mais ricas —apesar de não serem exclusivos nesses lugares— outros, mais ligados à baixas taxas de vacinação e pouca educação sexual, como é o caso do câncer do colo de útero, prevenível com a vacina contra o vírus HPV, que é transmitido sexualmente, são mais prevalentes em regiões mais pobres. Isso só mostra o quanto a educação e orientação ainda são fundamentais, senão o meio mais importante, para a prevenção dessas neoplasias.

Elisa Fontes – Oncologista Clínica