Quase 20% dos jovens usam cigarro eletrônico no Brasil

Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, um importante alerta: O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado recentemente, mostrou alguns dados sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde da população brasileira e fez um levantamento inédito sobre uso de cigarros eletrônicos no país. Pelo menos um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usam esses dispositivos, também conhecidos como ‘vape’, ou seja, 19,7%. A maior prevalência está entre os homens em todas as faixas etárias. O índice é de 10,1% entre eles contra 4,8% entre as mulheres. A região que mais usa cigarros eletrônicos é o Centro-Oeste (11,2% da população).

O número assusta, haja vista os diversos problemas que podem ser causados pelo aparelho. Ao usar o cigarro eletrônico o usuário inala substâncias tóxicas, que se depositam na região pulmonar e, portanto, podem causar diversos danos. Logo, há um grande equívoco pensar que eles (cigarros eletrônicos) são menos prejudiciais ao organismo. Alguns problemas, inclusive, podem ser irreversíveis.

Outro ponto importante é o fato de que o vape também pode conter nicotina. Isso significa que ele é capaz de gerar dependência da mesma forma que os cigarros comuns. Já foi provado pelo INCA, aliás, que o cigarro eletrônico pode ser a principal porta de entrada para o cigarro convencional, que sabidamente é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Cerca de 30% dos pacientes fazem essa migração.

Além disso, quem tenta migrar para o cigarro eletrônico com a desculpa de cessar o vício em nicotina comete, de acordo com a Associação Internacional para Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC na sigla em inglês), outro ledo engano. A instituição afirma que não há nenhum tipo de comprovação de que esse comportamento funcione. O mais correto a se fazer é cessar o hábito de fumar, tanto o cigarro eletrônico quanto o convencional.

Além de aumentar as chances de câncer de pulmão, o tabagismo é fator de risco para diversos outros tipos de tumores malignos. O cigarro convencional contém mais de 500 substâncias tóxicas que podem gerar danos ao DNA das células. As mutações aumentam o risco de câncer pois podem criar células ‘defeituosas’, que ao se replicarem são capazes de causar um tumor que com o passar do tempo ganha aspectos de malignidade.

Boa notícia

Apesar de os cigarros eletrônicos, principalmente entre os mais jovens, serem motivo de preocupação, por outro lado o consumo do tabaco caiu de 28% em 2000 para 16,3% em 2020 nas Américas, e 96% da população está protegida por pelo menos uma medida de luta antitabaco. Os dados constam no relatório sobre o Controle do Tabaco para a Região das Américas 2022, feito pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), apresentado no último dia 15, no Brasil. O próximo passo é que essa redução seja de 14,9% em 2025. Desse modo a região cumpriria a meta de diminuir o consumo em 30%, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), até essa data.

A nível mundial, o tabaco causa mais de oito milhões de mortes por ano, das quais 1,2 milhão são de não fumantes, mas que estiveram expostos à fumaça do tabaco.

Daniella Pimenta, oncologista clínica